Apresentação
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-3446.2018.v6.23265Resumo
Apresentação
A presente edição da revista Rónai – Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios da Universidade Federal de Juiz de Fora reúne contribuições de diversas naturezas. Ao total publicamos onze artigos, seis traduções e uma resenha.
No que diz respeito aos artigos, a área de Estudos Clássicos conta com cinco deles. O primeiro, de autoria de Bruna Fernanda Abreu, tem como título “Referências ao teatro nas Filípicas de Cícero e suas implicações para o ethos de Marco Antônio: a atriz de mimo Volumnia Cytheris”. Esse estudo trata da estratégia difamatória de Cícero, nas Filípicas, contra Marco Antônio. Ao analisar trechos dos quatorze discursos que compõem essa obra de Cícero, a autora buscou verificar como as referências à atriz de mimo Volumnia Cytheris aparecem nos discursos e de que modo colaboram para a construção da imagem de Marco Antônio como um personagem cômico ele próprio.
Em “Retrospectiva do mito: o Minotauro de ontem e de hoje”, Amanda Naves Berchez e Wellington Ferreira Lima, apresentam, embasados em conceitos benjaminianos, uma reflexão pontual sobre as reescritas do mito do Minotauro em suas variantes antigas. Para observar essas reescritas em autores antigos, como Plutarco e Apolodoro, e em autores modernos, como Jorge L. Borges e Verônica Stigger, os autores buscaram refletir sobre os fenômenos da transmissibilidade e da citação e, ainda, acerca das novas leituras do mito do Minotauro e possíveis significações em novos contextos.
Em seguida, apresentamos o artigo “O drama Epeu, de Eurípides”, de Wilson Alves Ribeiro Junior. Nesse texto faz-se uma avaliação dos elementos do mito de Epeu que Eurípides pode ter utilizado para o enredo do drama homônimo. Além disso, o autor apresenta uma tradução, acompanhada de breve comentário, da única possível fonte desse misterioso drama, perdido possivelmente antes de ser preservado na Biblioteca de Alexandria. E, por fim, discute-se a possibilidade de Epeu se tratar de um dos poucos dramas satíricos criados por Eurípides durante a segunda metade do século V a.C.
O quarto artigo deste volume é o texto “Tradução do Texto Grego do Horário como Unidade Autônoma do Testamento de Adão”, de autoria de Milton Luiz Torres, Ana Maria Moura Schäffer e Deleon Ferreira de Lima.. Nele, os autores apresentam uma proposta de tradução do texto grego do Horário para o português, que serviu como base para discutir sua autoria. Além da tradução, comentou-se o gnosticismo de Nag Hammadi e fez-se uma comparação breve com a literatura apocalíptica judaica do século I A.D.
Em seguida, apresentamos o texto de Matheus Trevizam, intitulado “Os desafios da tradução de textos ‘agronômicos’ latinos”. Neste trabalho, o autor discute alguns dos desafios envolvidos na tradução de textos agrários romanos, relacionados à dificuldade de transpor, para a língua de chegada, as especificidades da linguagem, léxico e estilo dos “agrônomos”. O modo de análise envolveu exame do léxico e do estilo em obras como o De agri cultura, de Catão, e o De re rustica, de Varrão, por vezes em cotejo com os mesmos aspectos encontrados nas Geórgicas.
No que diz respeito à área de tradução, os artigos selecionados para o presente número refletem em ampla medida a diversidade das pesquisas e produções em termos de estudos e práticas tradutórias no Brasil. Revela-se aqui não só a fertilidade e amplitude do campo tradutório, mas também – e mais profundamente – a sua configuração enquanto espaço de interação e movimento. A tradução se mostra como um locus privilegiado de estabelecimento de contatos interculturais e transposições de fronteiras.
Dentre esses contatos e transposições, alguns foram particularmente contemplados por nossos autores. Primeiramente, vemos sobretudo um profundo questionamento das interações entre teoria e prática. Não por acaso a obra de Henri Meschonnic foi contemplada de maneira mais detida em dois artigos que dialogam em profundidade com a ideia de uma poética do traduzir (enquanto série de princípios e enquanto tendências práticas). O texto de Mateus Roman Pamboukian, “Amanhãs entrelaçados: três traduções de Henri Meschonnic”, inscreve-se de maneira clara nessa encruzilhada, abordando diferentes aspectos da obra literária, tradutória e teórica do autor para propor, por sua vez uma discussão de práticas tradutórias próprias.
De maneira similar, o artigo-ensaio de Maria Sílvia Cintra Martins, intitulado “A tradução como procedimento poético de repetição”, parte de uma pesquisa que entrelaça a perspectiva de Meschonnic com a tradução de Lavoura Arcaica, para construir uma perspectiva sui generis do ato de traduzir. Teoria produtora de expressividade e fértil, portanto: aberta a novas contribuições e desenvolvimentos, em constante contato com a poesia, a narrativa e o ensaio.
Outra barreira transposta nos estudos aqui reunidos diz respeito às barreiras temporais. Nesse sentido três artigos se destacam. Primeiramente, a análise de Gabriel Contatori e Érico Nogueira (“A recepção e reelaboração de alguns preceitos das poéticas clássicas no Arte nuevo de hacer comedias en este tiempo, de Lope de Vega”) acerca da recepção/transposição/reelaboração de preceitos clássicos na obra de Lope de Vega. Tal perspectiva mostra que a ideia de trazer e deslocar, presentes no verbo traduzir, possuem diversas configurações e se aplicam a processos de recepção complexos.
Ponto de vista similar, ainda que mais pontualmente ligado ao estudo de traduções no sentido restrito do termo, é apresentado em duas contribuições ligadas ao século XIX brasileiro. Num estudo acerca dos manuscritos da “A tradução em prosa de Dom Pedro II da tragédia Prometeu acorrentado de Ésquilo”, Ricardo dos Santos traz à tona um momento importante da história da tradução no Brasil, cujo interesse tem sido crescente.
Já Juliana Aparecida Gimenes aborda, em seu texto “Olhos nos olhos: Capitu e Conceição, mulheres machadianas em tradução para o espanhol”, importantes temas como reescrita e reimaginação no que toca às personagens femininas machadianas e aos complexos procedimentos de enigma e insinuação que evocam.
Por fim, cabe ressaltar a fronteira espacial que se dissolve em nossas duas últimas contribuições. João Paulo Ribeiro, além de propor um texto que entrelaça objetividade e subjetividade, relata, em “Tradução e Xamanismo: Em busca de Vidas Secas pelos caminhos de Ñapirikuli e as Amarunai”, um interessante percurso teórico-mitológico de tradução inspirado em sua tentativa de estabelecer laços entre Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e o nheengatu. Seu texto evoca, em linguagem ritualística e ensaística, por vezes enigmática, os ecos do xamanismo no ato de tradução.
Quanto às contribuições na seção de tradução, contamos, primeiramente, com “Pítica 1 de Píndaro”. Nesta submissão, os autores Ricardo Tieri de Brito e Christian Werner apresentam uma tradução para o português da Pítica 1 de Píndaro, acompanhada de uma pequena introdução e notas.
Na sequência, em “A história de Egialeu (Efesíacas, V.1): tradução e comentário”, Adriane da Silva Duarte apresenta a tradução dessa narrativa intercalada em Efesíacas ou Ântia e Habrócomes, romance de Xenofonte de Éfeso (II. d.C.). A tradução da passagem é antecedida por uma breve exposição sobre autor e obra e sua discussão.
Em meio às traduções de textos antigos, temos uma contribuição que versa sobre um texto em língua moderna sobre o ensino da língua latina. De autoria de Leni Ribeiro Leite e Ariane Ribeiro Santana, a tradução de “Latim ativo: falando, escrevendo, ouvindo a língua” apresenta o artigo, originalmente publicado em 2012, de Milena Minkova e Terence Tunberg. Ali os autores apresentam brevemente sua compreensão sobre a razão do uso do latim na prática pedagógica desta língua clássica não apenas de forma escrita e lida, mas também no que diz respeito à produção oral da língua.
O texto a seguir, cujo título é “Proposta de tradução do Discurso em agradecimento ao povo romano, de Cícero”, é de autoria de Gilson Charles dos Santos. Nele, o autor apresenta uma tradução do Discurso em agradecimento ao povo romano, de Cícero e, ainda, breve introdução ao tema tratado pelo orador romano em tal texto.
De autoria de Paulo Eduardo de Barros Veiga, o texto “O mito de Orfeu e Eurídice no Livro IV das Geórgicas de Virgílio: tradução e notas” traz uma tradução em prosa dos versos de número 453 a 527 do Livro IV das Geórgicas de Virgílio, em que o mito de Orfeu e Eurídice é narrrado.
Livia Lakomi fecha a seção de tradução deste número com “Uma tradução de ‘Nada de não ficção: Pl2658.E8’, de Emily Goedde”, fazendo-nos transitar entre China, Estados Unidos e Brasil – ao mesmo tempo que aborda o gênero híbrido da não-ficção – numa contribuição acompanhada de comentário e entrevista com a autora do texto-fonte.
Por fim, apresentamos a resenha, em língua inglesa, de Rodrigo Pinto de Brito ao livro Arcesilao di Pitane: l’origine del platonismo neoaccademico. Analisi e fonti. Philosophie hellénistique et romaine de Simone Vezzoli, lançado em 2016.
O conjunto de textos desta edição alia, dessa forma, perspectiva acadêmica e ensaística, bem como práticas de tradução e de crítica. Esperamos que os leitores possam também desfrutar da multiplicidade aqui proposta.
Os editores
Carol Martins da Rocha
Yuri Cerqueira dos Anjos
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