Vol. 12 No. 2 (2022): Especial - Climatologia Geográfica: experiências com técnicas e pesquisa
A Revista de Geografia do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGEO-UFJF) apresenta, na presente edição, um volume especial sob o tema “Climatologia Geográfica: experiências com técnicas e pesquisa”.
Para a publicação desta edição, eu Prof. Dr. Fabio Sanches, gostaria de, publicamente, agradecer ao Prof. Dr. Roberto Marques Neto, editor da revista, pela oportunidade de organizar este volume temático especial. Tal edição soma-se a outras edições temáticas na área da climatologia geográfica já publicadas em diversos periódicos nacionais. Esta é, sem dúvida, uma oportunidade singular para divulgar o resultado das pesquisas desenvolvidas por parte de pesquisadores da climatologia de todas as regiões brasileiras. Assim, também em nome da Climatologia Geográfica brasileira, muito obrigado!
Da mesma forma, gostaria de agradecer a todos os autores que prontamente aceitaram ao convite para tal proposta, mesmo estando sobrecarregados de atividades em suas instituições (pesquisas, extensões, administração etc.), condição essa muito peculiar nos últimos anos.
Contextualizando o momento em que vivemos, estamos fechando um ciclo obscuro e obtuso de, pelo menos, quatro anos, onde diversos segmentos de nossa sociedade foram duramente atacados, sobretudo, o meio ambiente e a ciência. Fakenews, desprestígio da ciência, contingenciamentos e cortes de recursos orçamentários, ataques às instituições de pesquisa e a pesquisadores foram condições constantes e intensas nos últimos anos. Felizmente, como diria Chico Buarque, “apesar de você, amanhã há de ser um novo dia. Inda pago pra ver, o jardim florescer, qual você não queria”. E nesse sentido – quase como atos de resistência por parte destes pesquisadores – que esta edição temática é publicada.
Convido o leitor a desfrutar dos 15 artigos que versam sobre técnicas e pesquisas em climatologia, ou que considerem parâmetros climáticos no desenvolvimento de suas análises.
O texto que abre esta edição intitula-se Monitoramento da qualidade do ar em residências urbanas e rurais de Porto Velho- RO no qual apresenta uma demonstra a relação entre a pluviosidade, a distribuição espacial e as características dos padrões construtivos das residências na região amazônica, com aumento dos materiais particulados com o predomínio de eventos de queimadas. Trata-se de um dos exemplos de pesquisas de alta qualidade desenvolvidas por pesquisadores da Climatologia Geográfica no ambiente amazônico.
No segundo artigo, sob o título de Comparação da temperatura do ar noturna entre centro e periferia: uma contribuição aos estudos sobre clima urbano em Juiz de Fora-MG, os autores analisam, por meio de testes estatísticos e modelagem de potencial térmico, como o ambiente urbano construído influencia nas condições térmicas noturnas entre as regiões central e periférica na cidade de Juiz de Fora.
O terceiro artigo - A inversão térmica e evapotranspiração em área de transição urbano/natural, em Santa Maria/RS: uma abordagem topoclimática – aborda a questão em tese no Rebordo do Planalto Meridional, na natural/urbana, a qual divide o bairro entre a malha urbana e uma Unidade de Conservação. Trata-se de uma área de transição entre biomas, que separa remanescentes de Mata Atlântica do bioma Pampa.
Conforto térmico sazonal da comunidade jardim Colombo-SP a partir do índice PMV é o título do quarto artigo, no qual analisa-se o conforto térmico de quatro residências na cidade de São Paulo, partindo da ideia de que a tecnologia e os materiais construtivos influenciam diretamente no conforto térmico do ambiente.
O quinto artigo intitulado Variações temporais e espaciais da intensidade da Ilha de Calor Urbana na cidade do Recife – PE (Brasil), traz uma discussão sobre os padrões temporais e espaciais desse fenômeno (ilha de calor urbana) a partir de recursos de geotecnologias.
Mapeamento do conforto térmico no estado do Rio Grande do Norte é o título do sexto artigo desta edição. Nele, as autoras fornecem um diagnóstico térmico do estado do Rio Grande do Norte (RN) por meio da aplicação dos índices bioclimáticos de conforto térmico.
Estudos envolvendo técnicas de sensoriamento remoto fornecendo dados que permitem obter cálculos de índices temáticos, são aplicados como ferramentas de mensuração e análise dessas contrastantes realidades são apresentados no sétimo artigo, sob o título de Análise espaço-temporal da evolução do IBI e NDVI na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ entre 2001 e 2020.
Assim como no artigo que abre esta edição, o oitavo artigo traz pesquisas em climatologia desenvolvidas no ambiente amazônico. O campo térmico e higrométrico em cidade de pequeno porte do médio Solimões-Amazonas-Brasil traz uma investigação utilizando técnicas amplamente utilizadas, as quais revelaram informações sobre a gênese da ilha de calor urbana em cidades da Amazônia.
Em Análise da variabilidade pluviométrica no município de Ubá-MG (2003-2011), nono artigo da edição, os autores identificam os sistemas atmosféricos associados a inundações na bacia hidrográfica do ribeirão Ubá em paralelo com as informações provenientes da mídia impressa.
Segurança hídrica é o tema do décimo artigo intitulado As chuvas no Sistema Cantareira: avaliação dos reflexos no manancial visando a segurança hídrica da Região Metropolitana de São Paulo. Nele os autores alertam para o aumento do consumo doméstico de água na Região metropolitana de São Paulo, para a redução da dependência do Sistema Cantareira e para a necessidade de se realizar uma gestão de riscos e secas na área.
No décimo primeiro artigo, sob o título Clima e agricultura: um estudo das chuvas e a produção de soja em Capinópolis – MG, os autores discutem como o início e o final da estação seca e chuvosa influenciam na produtividade da soja neste município.
A Variabilidade espacial e temporal da precipitação pluvial na região fisiográfica do baixo São Francisco é o título do décimo segundo artigo, no qual são discutidos como as mudanças climáticas em curso, reduzindo as chuvas e aumentando o quadro das secas no Nordeste brasileiro agravam o quadro de vulnerabilidade hídrica na região.
Sob o título de Análise da variabilidade climática no município de Petrolina– PE entre os anos de 1973-2021, o décimo terceiro artigo versa sobre como os episódios de seca estiveram associados ao El Niño, e nem todos os anos que a precipitação esteve acima do esperado tiveram relação com a La Niña.
A ocorrência de eventos pluviais extremos e os seus efeitos são discutidos em Eventos pluviais extremos em Brasília-DF no período 1963-2019. No décimo quarto artigo, os autores definem o limiar diário para evento extremo avaliando sua tendência ao longo do tempo.
Já em Cinturões de altitude em relevos montanhosos tropicais e a conjugação entre zonalidade e extrazonalidade nos geossistemas montanhosos, décimo quinto artigo da edição, os autores abordam a relação dos elementos físicos na dinâmica geossistêmica, na qual a componente climática (temperatura e pluviosidade) assumem um papel singular para a questão.
Por fim, mas não menos importante, temos o desejo de que o ano de 2023, que breve se iniciará, possa trazer de volta os investimentos financeiros e as políticas que resgatem o importante papel da pesquisa e da educação. Que tenhamos um estado democrático, laico e que exerça seu importante papel por meio de política públicas de modo a resgatar nossa sociedade das trevas que estivemos nos últimos anos.
Boa leitura.
Juiz de Fora (MG), Solstício de verão de 2022.
Prof. Dr. Fabio Sanches
Editor especial