CHAMADA DE PUBLICAÇÃO DARANDINA, 29ª EDIÇÃO: ESTUDOS CLÁSSICOS "MULHERES AGENTES DA ANTIGUIDADE À SUA RECEPÇÃO"
Até hoje circula, mesmo no meio acadêmico, certa percepção de senso comum segundo a qual as mulheres teriam sido representadas – em todos os âmbitos e gêneros da cultura escrita na Antiguidade – como figuras passivas e submissas, quase sempre objetificadas pelas sociedades fortemente patriarcais de Grécia e Roma. Para além das marcantes imagens de vítimas (como Lucrécia, Tarpeia, Virgínia ou as Sabinas, de Tito Lívio), de lendárias feiticeiras (como Circe de Homero, Canídia e Sagana de Horácio, Ericto de Lucano, et al.), ou de habilidosas prostitutas (como as irmãs Báquides, Erócia e Taís de Plauto; Lídia, Glícera e Mírtale de Horácio; Quartila, Psiquê e Paniques de Petrônio), há abundantes registros históricos e literários de mulheres que contrariam tal percepção.
Do ponto de vista histórico, muito pouco nos sobrou da produção dessas mulheres que, apesar de terem suas contribuições para a ciência e para o progresso da sociedade ocidental obliteradas, ainda aparecem mencionadas e descritas pela própria tradição patriarcalista como as mulheres notáveis que foram. São exemplos eloquentes Teano de Crotona, que foi matemática da escola pitagórica no século VI antes da Era Comum; Aspásia de Mileto, que foi sofista e hetaira no século V antes da Era Comum; e Hipácia de Alexandria, que foi filósofa, astrônoma e professora entre os séculos IV e V da Era Comum.
Do ponto de vista literário, além das autoras Safo de Lesbos e Sulpícia, pode-se pensar ainda nas seguintes personagens míticas: as Danaides, que se recusaram a aceitar casamento com seus próprios primos e se autoexilaram para fugir das retaliações; Antígona, que transgrediu um injusto decreto real e foi condenada à morte por sua desobediência civil; Medeia, que se recusou a ser vítima de Jasão e perpetrou uma das mais célebres vinganças da literatura clássica; Dido, a rainha de Cartago que figurou em Justino como modelo de virtude e liderança estratégica (apesar de Virgílio ter-lhe impingido um destino infeliz no encontro com Eneias); Procne, que executou um plano sangrento contra o marido que estuprou sua irmã et al.
Assim, esta edição da revista Darandina reunirá contribuições com o tema da agência feminina na Antiguidade, bem como em obras de recepção que explorem as múltiplas releituras por meio das quais representações de mulheres no mundo antigo têm sido ressignificadas à luz não apenas dos estudos de gênero, mas de correntes interpretativas que se tornaram possíveis apenas neste milênio.
Adicionalmente, o periódico também recebe artigos com temática livre dentro do campo dos Estudos Literários, que poderão compor a seção Varia, além de textos de criação e resenhas de obras teóricas, críticas e literárias publicadas nos últimos 5 anos.
Proponentes: Jéssica Frutuoso Mello – Doutoranda
Profa. Dra. Charlene Martins Miotti
ENVIO DE TEXTOS (Artigos, Resenhas e Criação Artística) ATÉ 13 DE ABRIL DE 2023.
PREVISÃO DE PUBLICAÇÃO: JUNHO DE 2023.