As crianças de Bento Rodrigues atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão: uma perspectiva decolonial
Publicado 2023-07-31
Palavras-chave
- Direito das crianças,
- Autonomia,
- Teoria Decolonial,
- Barragem de Fundão,
- Reparação de Danos
Como Citar
Copyright (c) 2023 Homa Publica - Revista Internacional de Derechos Humanos y Empresas
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Resumo
A pesquisa utilizou-se da teoria decolonial como marco teórico para compreender perspectivas plurais e subalternizadas, uma vez que a decolonialidade propõe uma ruptura contra a hegemonia de poder e defende o diálogo com a diversidade e a pluralidade dos saberes. Parte-se do reconhecimento das crianças como agentes sociais e pessoas de direitos, detentoras de autonomias, que refletem e refazem suas próprias condições, ou seja, são capazes de se autogovernar, de tomar decisões acerca de si, sem sofrer imposições externas. Dessa forma, o objetivo deste artigo gira em torno de verificar se as crianças de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana (MG) atingido pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, conseguem exercer suas autonomias no processo de reparação de danos, observada a partir da colonialidade do poder, condição que persiste na Teoria das Capacidades. Sustenta-se que tal compreensão é amparada nos anseios coloniais de categorização e universalização de conceitos que impede as crianças de Bento Rodrigues de exercerem suas autonomias, excluídas da participação social ao longo do processo de reparação de danos da barragem de Fundão. Trata-se de uma pesquisa jurídico-sociológica, com o intuito de compreender a relação do fato social baseado nas compreensões das crianças com o fenômeno jurídico dependente das percepções da sociedade e produto do modelo minerador de desenvolvimento. As fontes utilizadas foram exclusivamente bibliográficas, exploradas de forma qualitativa e exploratória, pautadas nas publicações, do jornal A Sirene e do site Mariana: Território Atingido, de relatos das crianças, suas percepções sobre antes e depois do rompimento da barragem de Fundão e o processo de reparação de danos.
Downloads
Referências
- Aráoz, H. M. (2020). Mineração, genealogia do desastre: o extrativismo na América como origem da modernidade. Editora Elefante.
- Caritas – Regional Minas Gerais. Mariana: Território Atingido (2022). Disponível em: http://www.territorioatingido.com.br/#/.
- Carneiro, M. D. R. D. O. (2019). A Assessoria Jurídica Popular no Marco do Pensamento Decolonial: direitos e saberes construídos nas resistências populares. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto.
- Copi, Lygia Maria (2021). Infâncias, proteção e autonomia: o princípio da autonomia progressiva como fundamento de exercício de direitos por crianças e adolescentes. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
- Domingos, H. R. A. (2020). O que pode o povo decidir?: uma genealogia do direito de participação das atingidas e atingidos pelo desastre de Fundão. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto.
- Dussel, E. (1993). 1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Tradução de Jaime A. Clasen.
- Governo Federal. (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente.Lei Federal 8069 de 13/07/1990.
- Jornal a Sirene (2019). Edição 42, 4 de out. Mariana, Minas Gerais.
- Junqueira, M. A.; Andreucci, Ana Claudia Pompeu Torezan; Delbono, Benedita de Fátima (2021). Marilamas? As crianças vítimas de Mariana e Brumadinho: Direitos violados, o enfrentamento da crise e o processo de reconstituição, identificação e ressignificação. In: Atchabahian, Ana Claudia Ruy Cardia; Boas, Izabela Zonato Villas (org.). Quanto Vale? uma análise interdisciplinar do direito sobre as tragédias de Mariana e Brumadinho. Londrina: Thoth, p. 221-238.
- Lisboa, N. D. S., & SOUZA, I. A. D. (2019). Autonomia privada e colonialidade de gênero. Gênero, sexualidades e direito [Recurso eletrônico on-line]. organização CONPEDI/CESUPA. Florianópolis: CONPEDI, 7-22.
- Lopez, D. O. (2020). O Bento das crianças: o (re)fazer da vida após o rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG). 2020. 179 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Antropologia Social, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
- Mota, C. V. (2022). Sobreviventes de desastre de Mariana sofrem preconceito e moradores pedem volta da Samarco. BBCNews/Brasil. 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41798753.
- Naves, Bruno Torquato de Oliveira; Sá, Maria de Fátima Freire de (2021). Direitos da personalidade. 2. ed. Belo Horizonte: Arraes Editores, 171p.
- Nicácio, C. S., Dias, M. T. F., & de Sousa Gustin, M. B. (2020). (Re) pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. Almedina.
- Quijano, A. (2005). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 117-142.
- RIBEIRO, Bruno; FERNANDES, Márcio (2016). Desabrigados pela lama enfrentam preconceito e desconfiança em Mariana. Estadão. 2016. Disponível em: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,desabrigados-pela-lamaenfrentam-preconceito-edesconfianca-em-mariana,10000085277. Acesso em: 11 jun. 2022.
- Rizzini, I. (2004). A institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. Edições Loyola.
- SÁ, M. de F. F; NAVES, B. T. O. (2021). Bioética e Biodireito. 5. ed. Indaiatuba: Editora Foco, 355p.
- Senado. (2015). Estatuto da pessoa com deficiência. Secretaria de Editoração e Publicações Coordenação de Edições Técnicas Brasília DF. Lei Federal 13146 de 06/07/2015.
- Silva, K. G. B. D., & Carvalho, A. L. (2021). Quando crianças e adolescentes testemunham: trauma, perda e identidade no jornal A Sirene.
- Silva, A. F., & Faulhaber, P. (2020). Bento Rodrigues e a memória que a lama não apagou: o despertar para o patrimônio na (re) construção da identidade no contexto pós-desastre. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15.
- Souza, I. A. D., & LISBÔA, N. D. S. (2020). Autonomia decolonial da pessoa com deficiência no Brasil. ROCHA, Paulo Henrique Borges da; MAGALHÃES, José Luiz Quadros de; OLIVEIRA, Patrícia Miranda Pereira de. Decolonialidade a partir do Brasil. 1ª ed, Belo Horizonte: Editora Dialética.
- Souza, I. A. D., & LISBÔA, N. D. S. (2016). Princípios bioéticos e biojurídicos: uma visão baseada nos direitos humanos. SÁ, Maria de Fátima Freire de; NOGUEIRA, Roberto Henrique Porto; SCHETTINI, Beatriz. Novos direitos privados. Belo Horizonte: Arraes Editores, 1-15.
- Souza, I.A.; Pereira, Flávia Souza Máximo (2020). Autonomia, sujeição e subjetividade: decolonialidade no trabalho de crianças e adolescentes no YouTube. In: Serau, Marco Aurélio; Petry, Júlia Dumont; Souza, Larissa Rahmeier de. (org.). Infância, trabalho e plataformas digitais: a proteção jurídica do trabalho digital infanto-juvenil.1. ed. São Paulo: Escola Superior de Advocacia - OAB/SP, v. 1, p. 40-63.
- Souza, T. R. D., & Carneiro, K. G. (2019). O direito das “pessoas atingidas” à assessoria técnica independente: o caso de Barra Longa (MG).