CHAMADA DE PUBLICAÇÃO DARANDINA, 27ª EDIÇÃO : INTERFACES LITERÁRIAS: CRIAÇÃO E TRADUÇÃO
A história da teoria da tradução no ocidente remonta ao período clássico. De fato, pode-se remeter aos romanos a primazia no registro de suas reflexões sobre esse tema, como os textos de Horácio (Epístola aos Pisões), Cícero (Do melhor gênero de oradores) e Aulo Gélio (Noites áticas) testemunham. Além disso, o estabelecimento e o fortalecimento do campo dos Estudos da Tradução, principalmente após a chamada “virada cultural”, contribuíram para o desenvolvimento de múltiplas teorias e reflexões acerca da tradução e do ato tradutório (HOLMES, 2000 [1976], p. 176). Para tanto, ao se observar um panorama, como aquele proposto por Edwin Gentzler (2009), pode-se considerar a variabilidade dessas teorias, segundo as quais se diferencia, por exemplo, o conceito de equivalência, de modo a que se atinja a mesma experiência estética, uma equivalência linguística estrutural/dinâmica, uma função literária correspondente ou uma semelhante correlação formal baseada na aceitabilidade social na cultura-alvo (GENTZLER, 2009, p. 183).
Por conseguinte, além de questões relacionadas à prática e à crítica da tradução – as quais, muitas vezes, andam juntas já que, segundo Paul Ricœur (2012, p. 47): “[...] a única maneira de criticar uma tradução – o que sempre se pode fazer – é propor uma outra que se presume, que se pretende melhor ou diferente.” –, a tradução também impacta os processos de criação literária, visto que pode assumir o papel de introdutora de normas e modelos no polissistema literário que a recebe (EVEN-ZOHAR, 2012, [1990] p. 4-5), processo facilmente observável quando se leva em conta, por exemplo, a formação da chamada literatura latina a partir dos modelos gregos.
Nesse sentido, também a criação literária por si só tem oferecido vasto campo de teoria, prática e crítica, seja pelo estabelecimento de normas e padrões – como ocorre a partir de Horácio (Epístola aos Pisões), Nicolas Boileau-Despréaux (Arte Poética) e Edgar Allan Poe (A filosofia da composição), que escrevem sobre o ato da escrita – seja pelo afastamento desses modelos em busca de uma vanguarda. Dessa maneira, apesar da ampla discussão a respeito da tradução e também da criação literária, muito ainda precisa ser debatido, traduzido e criado/recriado/transcriado.
Assim, tendo em mente essas duas áreas que se interpenetram, para 27ª edição, a revista Darandina receberá textos inéditos sobre o tema 'Interfaces Literárias: criação e tradução'. À luz do que propõe a linha de pesquisa em 'criação literária' de nosso programa de pós-graduação, são bem-vindas reflexões críticas e metalinguísticas em torno das práticas de tradução em suas vertentes linguística e semiótica, assim como de criação de textos literários originais. Temas possíveis incluem, mas não se limitam a:
Investigações acerca das interfaces entre autoria e autoria secundária de tradutores;
Discussões sobre processos de criação e/ ou transcriação na literatura;
Análise de experiências de criação e/ ou tradução literária;
Problematizações de conceitos-chave da criação literária ou tradução;
Investigações sobre os usos de conceitos da teoria da literatura na criação literária.
Referências Bibliográficas:
EVEN-ZOHAR, Itamar. A posição da literatura traduzida dentro do polissistema literário. [1990]. Tradução de Leandro de Ávila Braga. Translatio, Porto Alegre, n. 3, 2012, p. 3-10. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/translatio/article/download/34674/22321. Acesso em: 15 mar. 2020.
GENTZLER, Edwin. Teorias contemporâneas da tradução. Tradução de Marcos Malvezzi. 2. ed. rev. São Paulo: Madras, 2009.
HOLMES, James. The name and nature of Translation Studies [1972]. In: VENUTI, Lawrence (ed.). The Translation Studies Reader. New York: Routledge, 2000. p. 172-85.
RICOEUR, Paul. Sobre a tradução. Tradução e prefácio de Patrícia Lavelle. 2. reimpr. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.
Proponentes:
Professores da Linha de Criação Literária do PPG Letras - Estudos Literários – UFJF
Doutoranda Jéssica Frutuoso - PPG Letras - Estudos Literários - UFJF
*O periódico receberá contribuições em temática livre, desde que dentro do escopo da revista, que serão incluídas na seção varia.
ENVIO DE TEXTOS (Artigos, Resenhas e Criação Artística) ATÉ 30 DE JUNHO DE 2022.
Recebimento de textos pela Plataforma OJS:
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