Escrita maldita, escrita lésbica
Cassandra Rios e a censura à lesbianidade na literatura
DOI:
https://doi.org/10.34019/1982-0836.2025.v29.48914Palabras clave:
Censura, Ditadura militar, Literatura lésbica, Pornografia, SilenciamentoResumen
A partir da década de 1970, observa-se um aumento nas mobilizações sociais protagonizadas por mulheres, embora a presença de vozes lésbicas, dentro desse cenário, tenha sido historicamente sub-representada. Esse silenciamento, frequentemente identificado como um instrumento de manutenção do sexismo e da lesbofobia (Lorde, 1984), contribui para a marginalização das experiências e narrativas lésbicas. Este artigo propõe-se a contribuir para a superação desse apagamento, alinhando-se às perspectivas teóricas e políticas que reivindicam a visibilidade das lesbianidades como parte integrante dos processos sociais e culturais. Para tanto, toma-se como objeto de análise a obra de Cassandra Rios, escritora frequentemente rotulada como “maldita” e “a mais proibida do Brasil” (Lira, 2013), cujos romances, majoritariamente protagonizados por personagens lésbicas, foram alvo de censura durante o regime militar brasileiro. Tal censura, justificada por acusações de "pornografia", configurou-se não apenas como repressão literária, mas também como mecanismo de apagamento das identidades lésbicas no contexto cultural e editorial do período (Trevisan, 2018). Com base em pesquisa bibliográfica, documental e análise literária, este estudo examina as razões alegadas para a marginalização da obra de Cassandra Rios, propondo uma reflexão crítica sobre os modos como o silenciamento se articulou à desqualificação estética e moral de sua produção. Busca-se, assim, contribuir para o reconhecimento da relevância da autora no campo da literatura brasileira, em especial no âmbito da literatura lésbica, e para a ampliação das discussões sobre gênero, sexualidade e censura no Brasil.
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