Apresentação
Abstract
O objetivo de toda arte não é algo impossível? O poeta exprime (ou quer exprimir) o inexprimível, o pintor reproduz o irreproduzível, o estatuário fixa o infixável. Não é surpreendente, pois, que o tradutor se empenhe em traduzir o intraduzível.
(Paulo Rónai apud CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem & outras metas. Ensaios de teoria e crítica literária. 4ªed. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 34-35).
Passados vinte anos de sua morte, a obra de Paulo Rónai permanece como um monumento nos estudos da tradução no Brasil. Mais que espelhar o pensamento de um intelectual do século XX, sua contribuição à cultura brasileira, inesperadamente, se revela atual e contemporânea.
De fato, a tradução e o intraduzível, o papel da arte e do artista, seus impasses e transformações na sociedade contemporânea, bem como sua identidade, são temas que permanecem na ordem do dia, no Brasil e no mundo, acerca dos quais, Paulo Rónai, em sua vasta produção intelectual, deu relevante contribuição.
Como um tributo ao Rónai tradutor e teórico da tradução – identidade não menos importante que a do classicista e professor de latim – a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, vem trazer a público o primeiro volume de mais um de seus periódicos – a Rónai: Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios. A meta é oferecer um espaço para a publicação de trabalhos inéditos em torno dos temas de Paulo Rónai: reflexões sobre os Estudos Clássicos, dos Estudos Tradutórios e a publicação de traduções em língua portuguesa, tarefas às quais, com afinco, Paulo Rónai se dedicou em sua obra.
Diante da pluralidade de periódicos em língua portuguesa que, separadamente, devotam-se ora aos Estudos Clássicos e ora aos Estudos da Tradução, neste optamos por apresentar uma confluência entre as duas áreas, por saber das mútuas contribuições que hão de receber classicistas e tradutores na confecção de seus trabalhos acadêmicos. De resto, a Revista também espelha a concepção pedagógica do Curso de Bacharelado em Letras da UFJF, que, voltado à formação de tradutores, contempla as áreas de Inglês, Francês e Latim. Além disso, optamos por construir uma revista que seja, sobretudo, discente, na medida em que se privilegia a publicação de artigos, resenhas e traduções que sejam fruto de investigações orientadas de alunos de graduação e pós-graduação, ensejando que se tornem públicos trabalhos, por vezes de grande originalidade e elevada qualidade, que permanecem obscuros nas encadernações frias de monografias, dissertações e relatórios de Iniciação Científica que ficam empoeirados nas prateleiras das universidades.
Na primeira seção deste número, apresentamos os trabalhos em torno dos Estudos Clássicos. O artigo de Priscilla Leite faz uma imersão no diálogo platônico do Êutifron, destacando a abordagem assimétrica dos conceitos ‘religiosos’ ali apresentados. Rodrigo Gallo trata, em seu texto, da oposição entre mito e história na obra de Heródoto. Joana Mestre Costa observa como Marcial reflete em sua obra o fato de ser um hispaniense de Bílbilis que se torna um cidadão habitante de Roma e como diferentes sentimentos de pertencimento são retratados em sua obra, em diferentes fases. Carlos Renato Rosário depreende o conceito de éthos da retórica aristotélica e estuda sua reelaboração teórica no De oratore de Cícero. Finalizando essa seção, Jassyara Fonseca apresenta um estudo intertextual entre o The great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e o episódio da cena Trimalchionis do Satyricon, de Petrônio.
Na segunda seção, apresentamos os trabalhos que refletem questões próprias dos Estudos Tradutórios. Sheila de Souza Corrêa de Melo faz uma relação entre o conceito de competência tradutória e o procedimento de Tradução Automática surgido na decada de 40, refletindo sobre sua relevância e sua potencialidade no mercado de tradução da sociedade globalizada contemporânea. Thiago Horácio Lott estuda o papel da tradução (e da autotradução) na obra literária do queniano Ngugi wa Thiong’o, como uma estratégia de reflexão dialógica sobre o multiculturalismo contemporâneo. No último artigo desta seção, Luciana de Mesquita Silva aborda as reflexões sobre a tradução no conto “Notas ao pé da página”, de Moacyr Scliar, contrapondo-o a diferentes concepções contemporâneas de tradução.
A última seção deste número apresenta as propostas de tradução. Inicialmente, temos duas traduções de textos poéticos latinos. Rafael Cavalcante do Carmo apresenta uma tradução poética, com introdução e notas, da “Sátira I” de Juvenal, no qual ele discute os procedimentos de tradução que poderia gerar efeitos de sentido em português correlatos àqueles da língua latina. Do mesmo modo, Bárbara Polastri apresenta sua tradução, com introdução e notas, para as Dirae, da Appendix Vergiliana. Esses poemas, outrora atribuídos a Virgílio, de autoria incerta, ainda não publicados em língua portuguesa, apresentam à sua tradutora dificuldades que ela esclarece em suas notas e em suas reflexões introdutórias, fazendo uma relação com a obra de Virgílio. Bruna Elisa da Costa Moreira apresenta uma tradução poética do poema “O piso da cozinha”, da poeta e ativista norte-americana Audre Geraldine Lorde. Last, but not least, apresentamos a tradução de Osvaldo Cunha Neto, que traduz o artigo científico “As duas sofísticas de Filostrato”, de Dominique Côté, que representa uma contribuição efetiva para os estudiosos de sofística grega no Brasil.
Assim, aproveitamos o ensejo para agradecer a todos os autores e pareceristas que contribuíram para que este número viesse a lume, desejando a todos uma frutífera leitura.
Os editores
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