“Feito uma aguardente que não sacia”
Opacidade e política em Chico Buarque
DOI:
https://doi.org/10.34019/1982-0836.2024.v28.46772Palavras-chave:
Opacidade e transparência. Cachaça e literatura. Canção popular brasileira. Chico Buarque. Poética e política.Resumo
RESUMO: Na encruzilhada entre o pensamento decolonial de Edouard Glissant com a investigação sobre os lugares da cachaça na literatura brasileira, este artigo se constrói a partir de duas questões: de que maneira os conceitos de transparência e opacidade (Glissant, 1990) podem auxiliar na compreensão dos sentidos poéticos e políticos da canção “O que será” (Buarque, 1976); e como o questionamento dos modos de presença da cachaça nesta canção pode contribuir nessa leitura. São consideradas as três versões da canção incluídas no longa metragem Dona Flor e seus dois maridos (Barreto, 1976). A análise toma como objeto a canção como composição, considerando eminentemente a letra, evocando oportunamente aspectos de sua presença no filme. A análise mostra que a pergunta-guia, que estrutura a canção desde o título, recoloca constantemente o problema da opacidade, fazendo-a circular por diferentes âmbitos, do individual ao universal, do erótico ao político, do local ao cosmopolita, etc. A transparência será resgatada como instância transcendente na figura do Padre Eterno, cujo papel é o de declarar, numa espécie de “juízo final às avessas”, a grande absolvição do humano em sua diversidade, multiplicidade, fragilidade, abertura e opacidade.
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