Travessias estéticas das Áfricas francófona e brasileira: Colonialismo e (anti)negritude em Soleil, Ô e Compasso de espera

Autores

Palavras-chave:

Cinema brasileiro, Cinema francófono, Cinema africano, Antunes Filho, Med Hondo

Resumo

O alcance global da ideologia colonial moderna impulsionou a produção de sistemas de significação altamente produtivos, a exemplo dos dispositivos de poder racista e antinegro. Suas denúncias e contestações se manifestariam através de variadas formas e registros e, na virada dos anos 1960 para 1970, encontrariam na linguagem cinematográfica um alto grau de expressividade. Frutos desse movimento contestatório, as obras audiovisuais de Med Hondo, no contexto africano e francês, e de Antunes Filho, no brasileiro, notabilizaram-se pela tematização crítica do paradigma antinegro do mundo moderno. Adotando como aporte teórico os estudos de Wilderson (2021), Silva (2022) e Deleuze (1990), propomos o exame individual e comparativo dos filmes Soleil, Ô (1967), de Med Hondo, e Compasso de Espera (1973), de Antunes Filho. A partir deste cotejo, acreditamos ser possível elucidar possíveis confluências da experiência antinegra nas formalizações estéticas realizadas em dois contextos distintos, porém em muito afins, a julgar pela semelhança das políticas de negação do racismo cristalizadas nos mitos da França igualitarista e do paraíso racial brasileiro.

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Biografia do Autor

Camila Geovanna Alves da Silva, Universidade de São Paulo

Mestranda em Letras Estrangeiras e Tradução na Universidade de São Paulo. 

Guilherme de Almeida Gesso, Universidade de São Paulo

Mestre em Letras Estrangeiras e Tradução (2024) pela Universidade de São Paulo. 

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Publicado

2025-01-18