PESQUISA COM O COTIDIANO: CAMINHOS DA FORMAÇÃO DA PROFESSORAPESQUISADORA
Abstract
Este artigo pretende contribuir com as discussões sobre a formação docente das professoras do ensino fundamental,
especialmente dos anos iniciais. Meu objetivo é desenvolver reflexões que compreendam a prática docente
como uma ação complexa, fluida, transformadora que acontece em uma sociedade igualmente complexa, em
movimento constante, histórica e culturalmente. Esta condição “líquida” como nos aponta Bauman (2001),
coloca para a escola e, portanto, para os profissionais que nela atuam, o desafio constante de compreender os
fenômenos sociais e as relações que estes estabelecem com os processos de ensinoaprendizagem. Para responder
a este desafio, os investimentos feitos em propostas de “treinamento” ou “capacitação” vêm se revelando
insuficientes. Minha perspectiva, construída nos anos de prática docente e pesquisa acadêmica, compreende que
a formação da professorapesquisadora de seus próprios cotidianos, nos seus cotidianos, nos coletivos de trabalho
em que se inserem, pode contribuir para uma formação docente contínua e de qualidade. Esta perspectiva, parte
da metodologia desenvolvida e utilizada nas pesquisas de mestrado e doutorado, que hoje dou continuidade
como docente da Universidade Federal Fluminense, onde através das “rodas de conversas”, professoras encontram
o espaço necessário para refletir sobre as próprias práticas, dilemas, conquistas e desafios de seus cotidianos,
conduzindo investigações e produzindo saberes que as têm como “sujeitos” e não “objetos” de pesquisa. Uma
perspectiva que as forma investigadoras e autoras de suas próprias práticas, e não meros personagens do discurso
do outro. Para dialogar conosco retomo a perspectiva dialógica de Freire, as pesquisas com o Cotidiano
desenvolvidas pelos professores e professoras do Grupalfa (Grupo de Pesquisa sobre alfabetização das crianças
das classes populares/UFF) e reflexões sobre o cotidiano desenvolvidas por Certeau (2004), compartilhando um
pouco desse caminhar, cheio de armadilhas e surpresas, sem a segurança que a ciência moderna nos oferece.