Capital racial, privilégios e desvantagens no curso de Medicina de uma universidade na Amazônia
DOI:
https://doi.org/10.34019/1984-5499.2025.v27.49565Palavras-chave:
Campo acadêmico, Capital racial, Branquitude, Privilégios raciais, Desvantagens raciaisResumo
Neste estudo, o objetivo foi analisar as percepções dos/as estudantes negros/as e brancos/as sobre possíveis privilégios e desvantagens raciais no Curso de Medicina da Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de Altamira. Para tanto, entre julho de 2022 e julho de 2023, realizamos uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa, utilizando como técnicas de coleta de dados a entrevista aberta e a observação simples. Como referencial teórico, nos aportamos em Bento (2002, 2018), Cardoso (2010), Santos (2022) e Schucman (2018, 2022). Constatamos que a existência de uma “branquitude crítica não racista” no campo investigado pode ser considerada uma questão significativa, pois ela não questiona as ideologias e práticas racistas no cotidiano da instituição, assim como, não desenvolve um real questionamento dos seus privilégios acumulados com base em seu capital racial positivo, em detrimentos do acúmulo de desvantagens raciais de grupos não brancos, decorrentes de um capital racial negativo. De todo modo, verificamos que a manutenção dos privilégios raciais ocorre não apenas por ações individuais, mas também através de interações institucionais e sociais mais amplas.
Downloads
Referências
BENTO, Maria Aparecida da Silva. Notas sobre a branquitude nas instituições. In: SILVA, Maria Lucia da; FARIAS, Marcio; OCARIZ, Maria Cristina; STIEL NETO, Augusto. (Orgs.). Violência e sociedade: o racismo como estruturante da sociedade e da subjetividade do povo brasileiro. São Paulo: Escuta, 2018.
BENTO, Maria Aparecida da Silva. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. 169f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, 2002.
BONNEWITZ, Patrice. Primeiras lições sobre a sociologia de Pierre Bourdieu. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989.
BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009.
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora UFCS, 2014.
CARDOSO, Lourenço. Branquitude acrítica e crítica: a supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud. v. 8, n. 1, p. 607-630, 2010. Disponível em: https://afrokut.com.br/wp-content/uploads/2021/11/Branquitude-acritica-e-critica-a-supremacia-racial-e-o-branco-anti-racista.pdf. Acesso em: 30 jan. 2025.
FONAPRACE. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFES. Brasília: Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Assuntos Estudantis/ Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior, 2018.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2008.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. (Org.).; DESLANDES, Suely Ferreira.; GOMES, Romeu. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
MOREIRA, Adilson José. Privilégio e opressão. Revista Observatório Itaú Cultura, São Paulo, n. 1, p. 30-45, 2017. (versão impressa).
NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 19, n. 1, p. 287-308, 2006. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12545/14322. Acesso em: 30 fev. 2025.
PETERS, Gabriel. Habitus, reflexividade e neo-objetivismo na teoria da prática de Pierre Bourdieu. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 47-71, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/DVWhYRHDxhgN3yz49tVHTKz/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22 jul. 2024.
PIZA, Edith. Branco no Brasil? Ninguém sabe, ninguém viu. In: GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo; HUNTLEY, Lynn. (Orgs.). Tirando a máscara: ensaios sobre o racismo no Brasil. Paz e Terra, 2000.
SANTOS, Sérgio Pereira dos; Rocha, Emerson Ferreira. Entre o esconderijo do privilégio e a blindagem racial de brancos e negros. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 27. n. 1, p. 1-16, 2022a. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/edufoco/article/view/39469/25556. Acesso em: 30 fev. 2025.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Branquitude e privilégio. In: SILVA, Maria Lucia da; FARIAS, Marcio; OCARIZ, Maria Cristina; STIEL NETO, Augusto. (Orgs.). Violência e sociedade: o racismo como estruturante da sociedade e da subjetividade do povo brasileiro. São Paulo: Escuta, 2018.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. 122f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista brasileira de Educação, v.1, n. 20, p. 60-70, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/mSxXfdBBqqhYyw4mmn5m8pw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 17 jul. 2024.
TRIGO, Maria Helena Bueno. Habitus, campo, estratégia: uma leitura de Bourdieu. Cadernos Ceru, v. 2, n. 9, p. 45-55, 1998. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ceru/article/view/74986/78545. Acesso em: 27 jul. 2024.
