O impacto da ratio studiorum nas aldeias do sertão
DOI:
https://doi.org/10.34019/1984-5499.2021.v23.30242Palavras-chave:
Ratio Studiorum. Políticas linguísticas. Língua Kiriri.Resumo
O presente artigo ressalta a relevância da Ratio Studiorum à formação dos jesuítas e o seu desempenho com a catequese, nas missões dos “caminhos de dentro”, no período seiscentista, na colônia brasileira. Assim, propõe-se a um estudo de cunho bibliográfico e documental para compreender como a formação humanística da Ratio Studiorum contribuiu para o relacionamento e a atuação dos inacianos em sua missão, na América portuguesa, mais propriamente, nos sertões da capitania da Bahia. Também, toma-se o jesuíta Pe. Vicenzo Mamiani, que teve missão junto aos Kiriri e produziu um catecismo, Catecismo da Doutrina Christãa na Lingua Brasilica da Nação Kiriri (MAMIANI, 1698), e uma gramática, Arte de Grammatica da Lingua Brasilica da Naçam Karirí (MAMIANI, 1699), os quais serão objeto de análise. A pesquisa se situa no âmbito da historiografia linguística e da linguística histórica sócio-histórica e embasa-se nos estudos de Mattos e Silva (1993, 2006), Pompa (2003), Leite (2000), Cardim (1997), Sousa (1971), Miranda (2007), Rodrigues (1994), dentre outros, que trazem uma abordagem dos contatos entre jesuítas e indígenas, e questões sócio-históricas, no período da colonização brasileira. Como resultado, apresentam-se ações da catequese nas aldeias do semiárido baiano, que firmam a arte de doutrinar em língua Kiriri, como também, um levantamento da produção escrita referente à língua Kiriri, o catecismo e a gramática, produzidos por Mamiani, que evidenciam a sua formação humanística do Ratio Studiorum.
Downloads
Referências
AMADO, Janaina. Região, sertão, nação. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 8, n. 15, p. 145-151, 1995.
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944.
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O feudo: A Casa da Torre de Garcia d'Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil. 2 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
BANDEIRA, Maria de Lourdes. Os Kariris de Mirandela: um grupo indígena integrado. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1972.
BARBOSA, Bartira Ferraz. Pernambuco: herança e poder indígena, Nordeste séculos XVI-XVII. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007.
BARROS, Maria Cândida Drumond Mendes. Notas sobre os catecismos em línguas vernáculas das colônias portuguesas (séculos XVI-XVII), p. 2-36, julho 2001. Disponível em: < http://www.academia.edu/4520970/Notassobre_os_catecismos_em_l%C3%ADnguas_vern%C3%A1culas_das_col%C3%B4nias_portuguesas_s%C3%A9culos_XVI_XVII. Acesso em: 18 maio 2021.
BAUMGARTNER, Mireille. A Igreja no Ocidente: das origens às reformas no século XVI. Lisboa: Edições 70, 2015.
CALVET, Louis-Jean 2007. As políticas linguísticas. Tradução Isabel de Oliveira Duarte, Jonas Tenfen, Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2007.
CARDIM, Fernão. Tratados das terras e da gente do Brasil. Transcrição edição e notas de Ana Maria de Azevedo. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1997.
CARVALHO, José Murilo. A construção da Ordem. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Relume-Dumará, 1996.
CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. Operários de uma vinha estéril: os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil – 1580-1620. Bauru, SP: Edusc, 2006.
CASTRO, Eduardo Viveiros. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem. In: A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
CUNHA, Rejane Cristine Santana. O Fogo de 51: reminiscências Pataxó. Feira de Santana: Editora Zarte, 2018.
D’ ANGELIS, Wilmar da Rocha. Como nasce e por onde se desenvolve uma tradição escrita em sociedade de tradição oral? Campinas: Curt Nimuendajú, 2007.
DANTAS, Beatriz Góis. Missão indígena no Geru. Aracaju: UFS, 1973.
DANTAS, Beatriz Góis; SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras; CARVALHO, Maria Rosário Gonçalves de. Os povos indígenas no Nordeste Brasileiro: um esboço histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
DOCUMENTOS Históricos da Biblioteca Nacional. v. LXIV. Rio de Janeiro: Typ. Baptista de Souza, 1944.
FÁVERO, Leonor Lopes. Heranças: a educação no Brasil Colônia. Revista Anpoll, Campinas, n. 8, p. 87-102, jan./jun. 2000.
FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos jesuítas: o Ratio Studiorum. Rio de Janeiro: Agir, 1960.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. História da Província Santa Cruz. Introdução e notas Ricardo Martins Valle, Clara Carolina Souza Santos. São Paulo: Hedra, 2008.
HEMMING, John. Ouro Vermelho: a conquista dos Índios Brasileiros. Tradução Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: EDUSP, 2007.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Edição Fac-símile comemorativa dos 500 anos da descoberta do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. 10 v.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus. São Paulo: Edições Loyola, 2003. Tomo V.
LEITE, Serafim. Novas cartas jesuíticas (De Nóbrega a Vieira). São Paulo: Edições Loyola, 2003.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus. São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 338-339. v. 8.
MAMIANI, Luiz Vincencio. Arte de Grammatica da Lingua Brasilica da Naçam Karirí. 2 ed. Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Bibliotheca Nacional, 1877 [1699].
MAMIANI, Luiz Vincencio. Catecismo da Doutrina Christãa na Lingua Brasilica da Nação Kiriri. Lisboa. Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1942.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Português brasileiro: raízes e trajetórias. São Paulo, 1993.
MATOS E SILVA, Rosa Virgínia. Uma compreensão histórica do português brasileiro: velhos problemas repensados. In: CARDOSO, Suzana Alice Marcelino; MOTA, Jacyra Andrade; SILVA, Rosa Virgínia Mattos e (Org). Quinhentos anos de história linguística no Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia, 2006, p. 240-242.
MIRANDA, Margarida. A "Ratio Studiorum" ou a institucionalização dos estudos humanísticos. Biblos, Coimbra, v. 5, p. 109-130, 2007.
MONTEIRO, John. A língua mais usada na costa do Brasil. In: Tupis, tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. Tese de Livre Docência. Campinas: Unicamp, 2001. p. 46-7.
NANTES, Pe. Martinho de. Relação de uma missão no Rio São Francisco. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979.
NUNES, Antonietta d’Aguiar. A obra catequética dos indígenas pelos jesuítas na Bahia. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, v. 102, p. 55-80, 2007.
PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos de ir e vir e caminho sem volta: índios, estradas e rios no sul da Bahia. 1982. 329 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1982.
POMPA, Cristina. O lugar da utopia: os jesuítas e a catequese indígena. Novos Estudos, São Paulo, n. 64, p. 83-95, 2002.
PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003.
QUEIROZ, José Marcio Correia de. KIRIRI-DZUBUKUÁ: Fontes linguísticas e etno-históricas. In: MOURA, Denilda (Org.). Os desafios da língua: pesquisa em língua falada e escrita. Maceió: Edufal, 2008. p. 393-396.
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História de educação brasileira. Campinas: Editores Associados, 1988.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. São Paulo: DELTA, 1993.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 1994.
SANTOS, Ane Luíse Silva Mecena. “Trato da perpétua tormenta”: A conversão nos sertões de dentro e os escritos de Luigi Vicenzo Mamiani dela Rovere sobre os Kiriri (1666-1699). 2017. 274 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2017.
SANTOS, Solon Natalício Araújo de. Conquista e resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: Tapuias, tupi, colonos e missionários (1651-1706). 2011. 217 f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.
SAVIANI Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 5 ed. rev. Campinas-SP: Autores Associados, 2010.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Companhia Editora Nacional: Edusp, 1971.