UTOPIAS PRATICADAS: JUSTIÇA COGNITIVA E CIDADANIA HORIZONTAL NA ESCOLA PÚBLICA
Resumo
Este texto parte da ideia de que os currículos podem ser percebidos como criação cotidiana dos praticantes
(Certeau, 1994) das escolas, e, mais do que isso, como contribuições da escola à tessitura da emancipação social
democratizante tal como defendida por Boaventura de Sousa Santos (2004a), segundo a qual esta se dá pela
criação de relações mais ecológicas, de interdependência, entre os diferentes, em todas as dimensões da sociedade,
sem dissociação entre o campo do epistemológico e o do político. Compreendidos como criação invisibilizada
pelo pensamento hegemônico, os currículos praticados (Oliveira, 2003), criados nos cotidianos das escolas
– que, considerando a indissociabilidade práticateoriaprática, reflexãoação, seriam melhor nomeados como
pensadospraticados – podem e merecem ser estudados, de modo a que os compreendamos para além da norma
curricular. Com isso, promove-se a desinvisibilização e possível multiplicação de experiências emancipatórias
desenvolvidas nas escolas, por professoras a quem são historicamente negados o reconhecimento por suas
criações cotidianas e de sua competência profissional. Tidas como meras transmissoras de conhecimentos
produzidos em instâncias “superiores”, essas professoras são criadoras de currículos que por vezes contribuem
para a formação cidadã, para a ampliação da justiça cognitiva e social e, com isso, para a emancipação social.
Uma atividade de extensão/pesquisa com professoras de uma Rede Municipal no Rio de Janeiro, em que
narrativas evidenciam preocupações e ações voltadas à tessitura de relações de reconhecimento e respeito
mútuos entre alunos e professores e seus conhecimentos, serve de base para pensar a contribuição da escola à
tessitura da emancipação social.