Quando o sagrado é subversivo.... Uma análise de Teorema de Pier Paolo Pasolini
DOI:
https://doi.org/10.34019/2236-6296.2018.v21.22129Resumen
Este artigo aborda a noção de religião presente no filme de 1968, Teorema, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini. A crítica tende a situar esse filme na esteira de outras produções do escritor italiano, no sentido de retratar certa crise no sistema capitalista. No caso específico desse filme, Pasolini buscaria evidenciar a crise da instituição familiar burguesa, tida como importante meio de propagação e continuidade do capitalismo. O artigo objetiva, sem negar inteiramente essa perspectiva, destacar o elemento religioso como central na película, mostrando como a crítica à sociedade burguesa é realizada a partir da religião. Religião é entendida como hierofania, com a chegada inesperada de um visitante à casa de uma família de alta classe de Milão, revelando o que cada um tem de demoníaco e de divino, processo que se dá por meio da seguinte estrutura: sedução, confissão e transformação. Desse modo, o visitante (de quem não se sabe nome, nem de onde vem ou para onde vai; que quase nada fala, mas cuja presença mesma é o que “incomoda”) causa na família burguesa (pai, mãe, filha, filho e empregada) uma inquietação, que leva ao envolvimento. Após o anúncio de sua retirada, instaura-se a crise em cada um dos membros da família, exposta na confissão que cada um faz a ele. Por fim, todos se sentem desterritorializados, de frente para a falta de fundamento à qual a experiência vivida os lança. Dessa maneira, religião pode ser entendida como a manifestação de algo desconhecido e que desestrutura aquilo que era tido por ordinário, isto é, a cotidianidade, conduzido ao reconhecimento do abismo que tudo permeia. A religião tem a ver com experiências de crise (visíveis nas diversas imagens do deserto que se interpõem à narrativa) que tudo relativiza, inclusive os valores da sociedade burguesa.
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