Chamada do dossiê "Monstros e monstruosidades nas expressões religiosas"

2025-01-23

Dossiê: Monstros e monstruosidades nas expressões religiosas

Coordenação: Prof. Dr. Márcio Cappelli (PUC-Campinas) e Prof. Dr. Paulo Nogueira (PUC-Campinas) 

 

Os mitos, narrativas e imaginação das mais diferentes religiões estão repletas de seres grotescos, aberrantes, desproporcionais e híbridos. Estes seres não correspondem às classificações normativas, sejam do senso comum, sejam da ciência. Antes, eles transgridem as fronteiras entre as espécies, a normatividade de gênero e as divisões entre vivos e mortos. Além dos seres monstruosos stricto sensu, as tradições religiosas também testemunham estados anímicos e sensações de desconforto existencial e ontológico, sintomas de conexões estranhas, ainda que familiares, que Freud cunhou de “o insólito” (das Unheimliche).
Os seres monstruosos apresentam um desafio para os estudos de religião inspirados na modernidade, afinal eles não têm referentes no mundo real, sendo recorrentes do pensamento mítico do passado ou de culturas de povos supostamente desprovidos de racionalidade e ciência, quando não de estratos profundos do inconsciente. Desta forma, os monstros ficaram relegados ao esquecimento. Se os monstros não ganharam a atenção devida nos estudos acadêmicos de religião, eles passaram a ser revisitados nos estudos culturais e nas análises de história da arte, principalmente a partir dos anos 90. É desses âmbitos acadêmicos que se formulou uma “teoria da monstruosidade”, que os entende como mais do que meras atrações bizarras ou como expressões de mentalidades deficientes em interpretar o real. Ao contrário, nos monstros encontramos as formas de com que designamos aquilo que percebemos como ameaçador, que se nos apresenta com poder desintegrador, no entanto, não se trata apenas do externo, afinal as formas do monstro também apontam para cisões internas, para aquilo que estranha e desconfortavelmente me constitui. Ou seja, no monstro nomeio o outro, mas o faço a partir de minhas fissuras. Nos estudos mais recentes a teoria da monstruosidade também se apresenta como produtiva, pois nos descentra, questionando as pretensões de exclusivismo de protagonismo humano, nos mostrando conexões possíveis e imaginárias com os elementos, os espaços, os animais e as formas concebidas no mundo da psiquê e da imaginação, lançando-nos numa ecologia plena e radical.

Este dossiê convida autores a autoras a submeterem artigos que explorem o campo da monstruosidade e dos monstros com toda a sua ambiguidade e paradoxo em suas relações com temas, textos e símbolos religiosos.

Prazo das submissões: 30/04/2025