ÒrunÀiyé: o terreiro enquanto referência para a criação artística
DOI:
https://doi.org/10.34019/2525-7757.2021.v7.34457Abstract
Òrun significa céu e Àiyé, terra. Òrun é, então, entendido como o mundo espiritual e o Àiyé o mundo físico em que vivemos. Relaciono ambas palavras de origem yorubana a compreensão platônica do Mundo das Ideias e o Mundo Sensível, uma vez que dentro dos Ilês (casas), terreiros e barracões essas concepções também explicam a separação de dois mundos.
Contudo, apresento as palavras escritas desta maneira ÒrunÀiyé negando o corte epistemológico proposto por Platão que dividiu o mundo mental do mundo sensível, me aproximando do pensamento proposto por Ludwig Wittgenstein e Friedrich Nietzsche que defendem o ser humano como uma unidade psicofísica.
Partindo deste princípio, o Ilê Axé Mãe Nice D’Xangô, localizado na cidade de Jaguarão/RS, abriu suas portas durante cinco dias para a realização de oficinas que foram aplicadas com duas crianças que se relacionam com o espaço do terreiro desde o nascimento. O objetivo geral das oficinas ministradas partiu de um despertar artístico através de suas próprias orixalidades por meio da criação de um livro de artista com as narrativas cotidianas do terreiro em que crescerem.
Seguindo o preceito de uma casa de axé onde é sabido que “sem folha não tem Orixá”, o primeiro ponto trabalhado foi a própria materialidade do livro e suas folhas, ensinando-as todo o caminho que se percorre até que uma folha de papel esteja pronta para ser utilizada, relacionando arte, natureza e o candomblé. Em seguida cada uma construiu seu próprio caderno.
Nos dias que se seguiram, foi rememorado a forma de como as histórias dos Orixás sobreviveram até os dias de hoje e a importância da oralidade na cultura afro-brasileira, em especial para a religião de matriz africana. Como esta atividade foi direcionada para crianças que tem familiaridade com essas histórias, meu papel ali foi instigar que as meninas registrassem, através de desenhos e colagens, as narrativas as quais já tinham conhecimento. Fazendo-as compreender que as histórias passadas por toda a linhagem da família de santo podem ser contadas e revividas também através de narrativas visuais.
As oficinas realizadas são parte do estudo que estou desenvolvendo no Mestrado em Artes Visuais, na linha de pesquisa Educação em Artes e Processos de Formação Estética. Nesta pesquisa busco fomentar o ensino das artes levando em consideração a Lei nº10.639, à luz do pensamento de Luiz Rufino sobre a Pedagogia das Encruzilhadas e estudos no que tange o conceito da decolonialidade.
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