“Quem tem dor, tem pressa”: a (des)politização do debate da cannabis medicinal no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34019/1981-4070.2023.v17.40359

Palavras-chave:

Politização, Despolitização, Cannabis, Maconha medicinal, Pós-Democracia

Resumo

O fenômeno da despolitização tem ganhado profundidade na atuação de lideranças políticas da pós-democracia, cuja estratégia visa fortalecer a agenda de exploração neoliberal, deslocar as questões públicas até o reino privado e negar a capacidade de agência humana. Este artigo adentra a perspectiva teórica da pós-democracia para demonstrar indícios de ações politizantes e despolitizantes sobre a utilização de derivados da cannabis medicinal no Brasil, cujo debate problematiza argumentos de ordem moral e política em razão da associação do tema com o uso ilícito de drogas. Tanto as reflexões teóricas como os aspectos metodológicos do trabalho foram inspirados pelas contribuições de Hay (2007), a fim de delimitar os padrões narrativos que sustentam o debate público do tema. Ao analisar os depoimentos do movimento associativo favorável à cannabis medicinal e às medidas restritivas lançadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o estudo identificou estratégias políticas opostas que dialogam com a abordagem pós-democrática, tendo em vista a presença de argumentos vinculados aos processos de despolitização, como o deslocamento de questões públicas para o reino privado e a negação da capacidade de agência humana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Francisco Gabriel Alves, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutorando em Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública (EME/ UFMG).

Referências

AZEVEDO, A.; VIMIEIRO, A. C. A política despolitizante de Bolsonaro: uma análise da posição pública do governo na cobertura jornalística sobre a liberação de agrotóxicos. In: Edição do Congresso da Compolítica, 9, 2021, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2021, p. 1-25. Disponível em: <https://bit.ly/487hmSA>. Acesso em: 17 dez. 2022.

BALLESTRIN, L. O debate pós-democrático no século XXI. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 4, n. 2, p. 149-164, 2018. DOI: <https://doi.org/10.15210/rsulacp.v4i2.14824>.

BATES, S; JENKINS, L.; AMERY, F. (De)politicisation and the Father's Clause parliamentary debates. Policy & Politics, v. 42, n. 2, p. 243-258, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1332/030557312X656007>.

BAPTISTA, E. A.; HAUBER, G.; ORLANDINI, M. Despolitização e populismo: as estratégias discursivas de Trump e Bolsonaro. Media & Jornalismo, v. 22, n. 40, p. 105-119, 2022. DOI: <https://doi.org/10.14195/2183-5462_40_5>.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2015.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Audiência pública sobre a restrição ao uso de canabidiol em crianças e adolescentes com epilepsia. Brasília, 22 de outubro de 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=84YzxX9WuxM>. Acesso em: 15 nov. 2022.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM 1.931, de 13 de outubro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica, 2009. Disponível em: <https://bit.ly/47HncKf>. Acesso em: 6 dez. 2023.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM 2.324, de 14 de outubro de 2022. Aprova o uso do canabidiol para o tratamento de epilepsias da criança e do adolescente refratárias às terapias convencionais na Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut e no Complexo de Esclerose Tuberosa, 2022a. Disponível em: <https://bit.ly/4aaOI46>. Acesso em: 6 dez. 2023.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM 2.326, de 24 de outubro de 2022. Susta temporariamente os efeitos da Resolução CFM nº 324, 2022b. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=437819>. Acesso em: 6 dez. 2023.

FAWCETT, P.; MARSH, D. Depoliticisation, governance and political participation. Policy & Politics, v. 42, n. 2, p. 171-188, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1332/030557313X13868593346016>.

FOSTER, E. A.; KERR, P.; BYRNE, C. Rolling back to roll forward: Depoliticisation and the extension of government. Policy & Politics, v. 42, n. 2, p. 225–241, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1332/030557312X655945>.

HAY, C. Why we hate politics. Cambridge: Polity, 2007.

HAY, C. Depoliticisation as process, governance as practice: what did the ‘first wave’ get wrong and do we need a ‘second wave’ to put it right? Policy & Politics, v. 42, n. 2, p. 293–311, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1332/030557314X13959960668217>.

KENIS, A.; MATHIJS, E. Climate change and post-politics: Repoliticizing the present by imagining the future? Geoforum, v. 52, p. 148-156, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1016/j.geoforum.2014.01.009>.

LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Por que as democracias morrem? Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

MAESEELE, P. et al. In Flanders Fields: De/politicization and democratic debate on a GM potato field trial controversy in news media. Environmental Communication, v. 11, n. 2, p. 166-183, 2017. DOI: <https://doi.org/10.1080/17524032.2015.1094102>.

MAIA, R. et al. A Teoria do Reconhecimento em tempos de intolerância: retrocesso cultural e politização reativa. In: HELLER, B.; CAL, D.; ROSA, A. P. (Orgs.). Midiatização, (in)tolerância e reconhecimento. Salvador: EDUFBA, 2020, p. 109-130.

MOUFFE, C. Sobre o político. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.

ORLANDINI, M; MAIA, R. (Des)politização do ativismo: uma proposta metodológica das dinâmicas comunicacionais em ambientes digitais. In: Anais do Encontro Anual da Compós, 32, 2023. Anais [...] São Paulo: Universidade de São Paulo, 2023, p. 1-29. Disponível em: <https://bit.ly/3TkzIuP>. Acesso em: 11 dez. 2023.

SENADO FEDERAL. Uso medicinal da cannabis. Instituto de Pesquisa DataSenado, 2019. On-line. Disponível em: <https://bit.ly/3v2OQCH>. Acesso em: 11 dez. 2023.

VIMIEIRO, A. C.; MAIA, R. Campanhas cívicas e protestos de torcedores: em análise, a politização do futebol. Esferas, v. 1, n. 10, p. 33-46, 2017. DOI: <https://doi.org/10.31501/esf.v1i10.8288>.

WOOD, M.; FLINDERS, M. Rethinking depoliticisation: Beyond the governmental. Policy & Politics, v. 42, n. 2, p. 151-170, 2014. DOI: <https://doi.org/10.1332/policypress/9781447326601.003.0002>.

WOOD, M. Politicisation, Depoliticisation and Anti-Politics: Towards a Multilevel Research Agenda. Political Studies Review, v. 14, n. 4, p. 521–533, 2016. DOI: <https://doi.org/10.1111/1478-9302.12074>.

Downloads

Publicado

2023-12-30

Como Citar

ALVES, F. G. “Quem tem dor, tem pressa”: a (des)politização do debate da cannabis medicinal no Brasil. Lumina, [S. l.], v. 17, n. 3, p. 155–170, 2023. DOI: 10.34019/1981-4070.2023.v17.40359. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/40359. Acesso em: 22 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos