Freud e a fralda: o desfralde como um rito de passagem
DOI:
https://doi.org/10.34019/1982-8047.2024.v50.43779Palavras-chave:
Fraldas Infantis, Criança, Desenvolvimento InfantilResumo
Introdução: Diversos autores afirmam a influência de fatores fisiológicos e psicológicos no aprendizado do controle esfincteriano, destacando a aquisição desse controle como um marco de desenvolvimento da criança, envolvendo habilidades físicas e de relacionamento com o meio. Entretanto, propõe-se que o desfralde seja também um rito de passagem, uma resposta adaptativa obrigatória ao indivíduo quando forçado a mudar de posição dentro de um sistema. Objetivo: Destacar as dimensões social e cultural na aquisição do controle esfincteriano, um processo cujas inadequações estão incluídas entre os preditores para sintomas urinários e constipação na infância. Materiais e Métodos: O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica realizada a partir dos temas “ritos de passagem” e “estágio anal do desenvolvimento psicossexual pela ótica freudiana”. Não foram aplicadas restrições por idioma, nacionalidade ou ano de publicação nos textos selecionados. Resultados: Constatou-se que na operação do desfralde, para além da dimensão fisiológica estão em jogo importantes fatores estruturantes do psiquismo e das relações sociais. Propõe-se a inclusão do desfralde na série de mudanças de status em que o indivíduo se vê implicado em sua relação com a sociedade. Além do aprendizado de um hábito, ocorre também uma importante passagem no curso do desenvolvimento mental e social da criança, estando em jogo a decisão entre satisfazer-se de forma livre ou ceder a condicionantes socioculturais para essa satisfação. Conclusão: Considerando o processo de aquisição do controle esfincteriano como uma metáfora do processo de internalização de códigos socioculturais, é possível a caracterização do desfralde como um rito de passagem.
Downloads
Referências
Van Gennep A. The rites of passage. The University of Chicago Press; 1960.
Arruda DF, Assis GM. Guia para um desfralde consciente. Taubaté: Casa Cultura; 2021.
Matta R. Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de passagem e a modernidade. Mana. 2000; 6(1):11-2. doi: 10.1590/S0104-93132000000100001
Rivière C. Os ritos profanos. Petrópolis: Vozes; 1997.
Mota DM, Barros AJD. Toilet training: methods, parental expectations and associated dysfunctions. Jornal de Pediatria. 2008; 84(1):9-17.
Stadtler AC, Gorski PA, Brazelton TB. Toilet training methods, clinical interventions, and recommendations. Pediatrics. 1999; 103:1359.
Freud S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Freud S. Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras ; 2016. p. 22. v. 6
Bergeret J. Psicologia patológica. São Paulo: Masson do Brasil ; 1983.
Freud S. Caráter e erotismo anal. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago ; 2006. p. 162. v. IX
Freud S. O mal-estar na civilização. In: Sigmund Freud obras completas. São Paulo: Companhia das Letras; 2016.
Freud S. Psicologia das massas e análise do ego. In: Sigmund Freud obras completas. São Paulo: Companhia das Letras; 2016.
Freud S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Sigmund Freud obras completas. São Paulo: Companhia das Letras; 2016.
Abraham K. Teoria psicanalítica da libido. Rio de Janeiro: Imago; 1970.
Chapellon S, Gadio G. Quand surgit l’opposition: le stade anal. Enfances & Psy. 2017; 1(73):30-41. doi: 10.3917/ep.073.0030
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Lucélia Paula Cabral Schmidt, Sabrine Teixeira Ferraz Grunewald, Eder Schmidt
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Cessão de Primeira Publicação à HU Revista
Os autores mantém todos os direitos autorais sobre a publicação, sem restrições, e concedem à HU Revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento irrestrito do trabalho, com reconhecimento da autoria e crédito pela citação de publicação inicial nesta revista, referenciando inclusive seu DOI.