Corpos em revista: etnografia com visitantes em prisões femininas
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2020.v15.27658Resumen
O conjunto de normas estatais define como os visitantes de prisões devem se portar e vestir, bem como estipula regras sobre o transporte de insumos para o interior do cárcere. Nesta pesquisa etnográfica realizada em filas de espera em duas prisões femininas do Sul do Brasil, buscamos compreender os distintos significados atribuídos por mulheres e homens às revistas dos corpos no local de entrada de visitantes nas penitenciárias. Também procuramos investigar as percepções sobre as revistas corporais e materiais nos checkpoints do cárcere. As narrativas coletadas se referem aos diferentes procedimentos de inspeção, que variam de acordo com o sexo do visitante e com o sexo das pessoas confinadas, visto que algumas tecnologias só estão disponíveis em prisões masculinas. No caso das cadeias femininas, interlocutoras reclamam da falta de higienização após o uso da faca que perfura as comidas transportadas, ou do banco que inspeciona somente as partes íntimas das mulheres. Assim, sob o pretexto de contenção de potencial perigo, corpos e bens passam por processos de vasculha vistos pelas visitantes como impuros. Simultaneamente, o favorecimento institucional do transporte de produtos de higiene e limpeza confere aos visitadores a condição de agentes purificadores do espaço perigoso e sujo da prisão.