Dossiê “Olhar o sol e a morte: reflexões das Ciências Sociais sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil”

2021-04-30

Dossiê

“Olhar o sol e a morte: reflexões das Ciências Sociais sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil”

 

Organizadores:

Profa. Dra. Marta Mendes da Rocha – Universidade Federal de Juiz de Fora

Prof. Dr. Leonardo Barros Soares – Universidade Federal do Pará

Profa. Dra. Lilian Leite Chaves – Universidade Federal de Roraima

 

O pensador francês La Rochefoucauld certa vez afirmou que não é possível olhar de frente nem o sol nem a morte. O motivo, depreende-se, é que a visão de ambos, sem mediações, nos causa danos indeléveis. No entanto, desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, temos convivido diariamente com as cifras macabras de mortos em todo o país. Temos sido forçados, cotidianamente, a encarar de perto a morte de nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e mesmo o medo de nossa própria finitude. 

 

Em um momento em que completamos um ano e dois meses do registro do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, já é possível sentir os inúmeros impactos que a pandemia acarretou nas mais diversas esferas da vida. O Brasil possui 3% da população mundial, mas, apesar disso, concentra um terço das mortes diárias por Covid no mundo. Com cerca de 4 mil mortes diárias e um processo lento de vacinação, o país conta com a pior gestão da pandemia em todo o mundo. No final de abril, segundo registros oficiais, contabilizava-se mais de 14 milhões de infectados e 380 mil mortes por Covid-19.

 

Os impactos da crise sanitária já se fazem sentir de forma dramática e se expressam no aumento do desemprego, da informalidade, da pobreza, da desigualdade e do agravamento das condições de vida de grupos que, antes da emergência, já se encontravam em situação de vulnerabilidade social. Isso se aplica aos trabalhadores de modo geral, mas especialmente aos informais e em condições de trabalho precarizado, e afeta particularmente negros, mulheres e indígenas. Em 2020 o país registrou uma queda de 4,1% do PIB, o pior resultado em 21 anos. Soma-se a esse cenário a crise política e institucional vivida pelo país e que compromete decisivamente as ações de resposta.

 

Como destacado em inúmeras análises, a resposta governamental à pandemia tem sido liderada pelos governos subnacionais diante das omissões do governo federal. A postura negacionista do presidente em relação às proposições de especialistas da Organização Mundial da Saúde, os constantes ataques à comunidade científica e à mídia, a postura de conflito em relação aos governadores e prefeitos, o descumprimento das normas sanitárias e a promoção de terapias sem comprovação científica, contribuíram de forma inequívoca para limitar o êxito das ações de resposta que se caracterizam pela descoordenação e inconsistência.

 

Neste cenário, cidadãos e grupos sociais têm desempenhado um papel de relevo ao buscar estratégias para minimizar o impacto da crise sanitária e, ao mesmo tempo, pressionar os agentes públicos por medidas eficazes para a contenção do vírus. Entre estes grupos destaca-se a comunidade científica e acadêmica que, desde o início da pandemia, tem se dedicado à realização de pesquisas e estudos sobre o tema, oferecendo uma contribuição central para a compreensão de nossa realidade e para subsidiar o processo de tomada de decisões pelos agentes públicos.

 

O presente dossiê tem como objetivo reunir trabalhos acadêmicos sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil a partir da perspectiva das três áreas das Ciências Sociais – Sociologia, Antropologia e Ciência Política, além daquelas do campo de Políticas Públicas. Neste sentido, serão bem-vindos artigos que abordem a pandemia e seus múltiplos efeitos sobre a sociedade e a política brasileira, preferencialmente que sejam resultado de pesquisa empírica, e que versem sobre problemas/temas como:

 

 

  1. As respostas governamentais à crise sanitária e seus efeitos políticos e institucionais nas três esferas de governo; o papel do Executivo, do Legislativo e do Judiciário; efeitos sobre o Sistema Único de Saúde; o papel das mídias e das redes sociais na construção de narrativas sobre a pandemia; o papel dos militares;

 

  1. Os efeitos da crise sobre a educação e reflexões sobre o ensino remoto; desemprego, precarização, desigualdade, pobreza e insegurança alimentar; mudanças nas lógicas e dinâmicas do trabalho;

 

  1. Retrocessos no campo dos direitos de populações historicamente subalternizadas; impactos sobre as populações do campo, trabalhadores rurais, ribeirinhos e quilombolas; impactos sobre a população indígena; a pandemia na perspectiva indígena; a pandemia e a população carcerária; a pandemia na perspectiva de gênero: violência doméstica, sobrecarga de trabalho, os impactos sobre as mulheres negras;

 

  1. Efeitos da pandemia sobre grupos sociais específicos, tais como o impacto do isolamento sobre jovens e idosos; consequências para a saúde mental; e reflexões sobre o cotidiano na quarentena;

 

  1. A atuação e o comportamento de grupos sociais organizados durante a pandemia, incluindo a própria comunidade científica, assim como categorias profissionais como os médicos e suas respectivas entidades representantivas, e os profissionais da linha de frente do combate à Covid.

 

 

As constribuições deverão ser redigidas EM PORTUGUÊS.

 

Prazo para recebimento dos trabalhos: 15 de junho de 2021.

 

As submissões deverão ser feitas pelo sistema da Revista Teoria e Cultura onde também podem ser encontradas as instruções para preparação dos textos: https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/about/submissions

 

Os artigos submetidos passarão por uma primeira avaliação dos organizadores para verificar sua adequação à chamada (desk review) e em seguida serão encaminhados para a avaliação por pares (blind review).