Onde os fracos não têm vez: a elite do atraso ou o atraso da elite
Abstract
Esta resenha busca refletir sobre as contribuições, alcances e limitações da obra A elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato, de autoria do sociólogo Jessé Souza. De grande repercussão no cenário acadêmico e no campo progressista, o livro despertou o interesse de parcela da opinião pública por apresentar uma análise centrada nos elementos que propiciaram a consecução do golpe de 2016, notadamente, o pacto classista constituído pelos “donos do poder para perpetuar uma sociedade excludente e perversa, forjada ainda na escravidão”. Para que o impeachment se concretizasse tornava-se necessário a construção de uma narrativa capitaneada pela grande mídia centrada no combate à corrupção e na limpeza da política. Recorrendo a uma análise crítica no que concerne ao Pensamento Social Brasileiro, o autor argumenta que a narrativa do golpe se apoiou em certa medida no prestígio acadêmico e social alcançado pelas noções de patrimonialismo e populismo. Por detrás da corrupção dos tolos, a verdadeira corrupção é invisibilizada ao se deslocar a atenção para a corrupção que atinge a esfera estatal concentrando o debate em torno do patrimonialismo. No entanto, a verdadeira pilhagem das riquezas nacionais com o consequente enfraquecimento da soberania deriva da ação especulativa capitaneada pelo capitalismo financeiro internacional. O êxito da obra de Jessé Souza consiste em pensar a crise política que a assola o Brasil a partir da crítica ao pensamento sociológico vira-lata que adentrou todas as esferas da nossa vida social deixando em segundo plano a igualdade social como princípio basilar para a consolidação da democracia.
Palavras-chave: Elite do Atraso. Patrimonialismo. Populismo. Escravidão. Pensamento Social Brasileiro