Os dilemas da criação: as ambiguidades dos relacionamentos entre humanos e não humanos em dois municípios mineiros
Resumo
A circulação de animais por sítios, fazendas, estradas, cerrados, veredas, várzeas e rios é um importante tópico da vida cotidiana dos moradores das áreas rurais dos municípios de Urucuia e Chapada Gaúcha, localizados nos limites das regiões norte e noroeste de Minas Gerais. Tema de conversações e foco de algumas das principais preocupações dos seus habitantes, os deslocamentos – que podem ser resultados de desígnios humanos ou frutos das intenções dos próprios bichos – dão contornos específicos às noções de criação e mexer com criação, definidas através da relação entre alguns seres da natureza que vivem sob os cuidados dos humanos e as formas de se lidar com eles. Por meio de material etnográfico recolhido ao longo de viagens de campo realizadas entre os anos de 2007 e 2014, pretendemos descrever e analisar as maneiras pelas quais o movimento dos animais é percebido e entendido pelos seus donos e demais moradores. Em especial, tentamos compreender o papel que a circulação desempenha na constituição das relações entre humanos e bichos. O eixo descritivo deste texto será construído através do inventário dos saberes e práticas associados à atividade do criatório, expressos no trabalho dos criadores e nos relacionamentos cotidianos estabelecidos entre humanos e não humanos. A este material serão somadas narrativas recolhidas junto a interlocutores selecionados.