Quando a dor encontra acolhida

espiritualidade, saúde mental e posvenção no luto por suicidio

Resumo

O luto por suicídio constitui uma vivência marcada por elevada complexidade emocional, social e espiritual. Diferente de outras formas de perda, esse tipo de luto é atravessado por sentimentos ambíguos como culpa, vergonha, raiva e abandono, frequentemente intensificados por estigmas sociais e silenciamentos religiosos. Este artigo propõe uma reflexão sobre a posvenção como estratégia de cuidado integral aos sobreviventes — familiares, amigos e comunidades afetadas pela perda por suicídio. A partir de uma revisão bibliográfica de caráter interdisciplinar, articulando saberes da Psicologia, da Teologia Pastoral e da Saúde Pública, defende-se que a escuta sensível e a atenção às dimensões espirituais do sofrimento são fundamentais para o acolhimento ético e eficaz dos enlutados. Destaca-se o papel das comunidades de fé como espaços potenciais de reconstrução de sentido, desde que estejam preparadas para acolher a dor sem julgamentos morais. Além disso, aponta-se a importância da atuação conjunta entre profissionais da saúde mental e lideranças religiosas na construção de redes de apoio capazes de promover reconexão, dignidade e esperança. Nesse contexto, a posvenção é compreendida como mais do que uma prática terapêutica — ela representa um compromisso ético, social e espiritual com a vida.