Que monstro é esse? (De)colonialidade e a sabedoria da floresta

Autores

  • Tulio Toledo UFJF

DOI:

https://doi.org/10.34019/2236-6296.2025.v28.48428

Palavras-chave:

Monstros; Monstruosidade; Indígenas; Cosmogonia Yanomami; Colonialidade

Resumo

Este artigo investiga a construção dos imaginários de monstros e monstruosidades atribuídos aos povos indígenas no contexto da colonização da América do Sul, bem como as implicações dessa construção para o entendimento da própria prática colonial. Num primeiro momento, Todorov, Césaire, Certeau, Manuela Carneiro são mobilizados para demonstrar que a monstruosidade do indígena foi construída discursivamente para legitimar a dominação. Em um segundo momento, o artigo inverte o foco, argumentando que o próprio processo colonial, com sua violência extrema, constitui o verdadeiro monstro, um sistema que, segundo Aníbal Quijano, Mignolo, Arendt e Haraway configura a elaboração de uma banalização da ética, evidenciando que o controle e a violência movidos por interesses, subjugaram a lógica e a ontologia indígena e assim construíram uma própria figura do monstro. Uma análise da historicidade do período colonial permite articular a tensão entre o imaginário do monstruoso e a práxis do poder, contribuindo para uma desconstrução dos discursos coloniais e uma reivindicação de epistemologias reorientadas. Por fim, através de Kopenawa, Albert e Viveiros de Castro é apresentada uma análise da cosmogonia Yanomami, na qual os xapiri – seres de aparência e ação ambígua – demonstram que a monstruosidade é, na perspectiva indígena, parte integrante da realidade e da paisagem sacralizada, onde, alguns xapiri podem trazer a cura, mas também podem trazer a morte.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALEXANDRE VI. Bula Inter Caetera (1493). In: ARRUDA, José Jobson de A.; PILET-TI, Nelson (Org.). Documentos de História. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 45–47.

ANCHIETA, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Pe-trópolis: Vozes, 1988.

ARENT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Nova York: Schocken Books, 1951.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. 1. ed. São Paulo: Claro Enigma, 2012.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Marilena Chaui. São Paulo: Veneta, 2022.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o Colonialismo. Paris: Maspero, 1950.

COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. In: Pedagogia dos mons-tros – os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

COLOMBO, Cristóvão. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o testamento. Tradução de José Roberto do Amaral Lapa. Porto Alegre: L&PM, 2013.

GINZBURG, Carlos. O Olho de Deus: Ensaios sobre a Monstruosidade e o Subli-me. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

GREENBLATT, Stephen. Possessões Maravilhosas: o deslumbramento do Novo Mundo. São Paulo: Edusp, 1996.

HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: Ciência, Tecnologia e Feminismo na Intersubjetividade Pós-Moderna. Tradução de Gilson Ivaldo L. Souza. São Paulo: Editora 34, 1995.

HARAWAY, Donna. Simians, Cyborgs, and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge, 1991.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1936.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã ya-nomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

LE GOFF, Jacques. Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (Orgs.). Dicionário Analítico do Ocidente Medieval: volume 2. São Paulo: UNESP, 2017. p. 120–138.

MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade ocidental. Re-vista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 94, 2017.

MIGNOLO, Walter D. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Viviane de Assis Viana. Belo Hori-zonte: Editora UFMG, 2003.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e as formas de exploração. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 55, p. 143–177, Coimbra: Centro de Estudos Sociais, Universi-dade de Coimbra, 2000.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LAN-DER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107–130.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2002.

Downloads

Publicado

2025-07-29

Como Citar

TOLEDO, T. Que monstro é esse? (De)colonialidade e a sabedoria da floresta. Numen, [S. l.], v. 28, n. 1, p. 127–145, 2025. DOI: 10.34019/2236-6296.2025.v28.48428. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/48428. Acesso em: 5 dez. 2025.

Edição

Seção

Dossiê: Monstros e monstruosidades nas expressões religiosas