A síndrome pós-Covid e a desorientação como estratégia política
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2022.v17.34772Resumo
Nos últimos meses, uma nova categoria vem sendo reivindicada no campo biomédico para designar um amplo conjunto de sintomas que parece desafiar a compreensão e as expectativas relativas à família viral dos coronavírus: a Síndrome Pós-Covid. Embora sem uma descrição clínica precisa até o momento, a nomeação da síndrome procura dar sentido às repercussões prolongadas da SARS-CoV-2, que afetam distintos órgãos e sistemas do corpo humano, especialmente o cérebro, coração, pulmão e pele. Com base em dados coletados em artigos científicos, imprensa, sites eletrônicos, cartilhas institucionais e pronunciamentos públicos de políticos com algum destaque no cenário nacional, o objetivo deste texto será analisar os modos de materialização e estabilização da síndrome e compreender as formas pelas quais a percepção e os sentidos podem ser capturados e governados para conformar uma determinada realidade em relação à pandemia. Ao estabelecer alguns paralelos entre os sintomas que circunscrevem a síndrome e as estratégias de gestão da crise sanitária, realizadas pelo governo federal brasileiro, procuro defender que a desorientação vem sendo utilizada como uma ferramenta política de governo, capaz de ocultar e revelar aquilo que se deseja, confundir plateias e impedir a atribuição de responsabilidades pelo que quer que seja.