Percepções sobre drogas, dependência química e busca de tratamento segundo elaborações cosmológicas de católicos e pentecostais
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2020.v15.29330Resumo
No presente artigo pretendemos apresentar um estudo comparado dos resultados encontrados por duas etnografias realizadas em torno da questão do uso crônico de álcool e drogas entre moradores de regiões periféricas. Ao mesmo tempo, iremos expor as interpretações que os usuários e suas famílias tinham sobre as causas da dependência química. De antemão, é importante salientar que, nos dois cenários onde os autores fizeram suas etnografias, as explicações encontradas para a dependência química gravitavam em torno das elaborações religiosas do catolicismo e do pentecostalismo. No entanto, no primeiro caso, onde a experiência religiosa dos indivíduos se fundamentava sobre os preceitos do catolicismo carismático, identificamos uma retórica voltada para o uso da medicina e da ciência de maneira geral como estratégias para lidar com a questão do uso sistemático de drogas, ainda que a dependência química fosse vista como um resultado de fatores não só bioquímicos, mas também emocionais e religiosos. Por outro lado, o segundo contexto observado era mais influenciado por preceitos do catolicismo popular e do pentecostalismo e se referia ao uso de drogas como um fenômeno apenas de ordem mágico-religiosa, o que justificaria o uso de recursos mágico-religiosos para cuidar dos indivíduos usuários problemáticos de drogas.