A(s) casa(s) e a rua: o zelo pela moradia dos deuses e de si-mesmo por parte de candomblecistas em processo de desinstitucionalização em saúde mental
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2020.v15.27145Resumo
O presente artigo aborda, a partir da discussão foucaultiana acerca do cuidado de si, como a imersão no candomblé atua sobre o senso de corporeidade de seus partícipes, sobretudo aqueles que padecem de alguma forma de sofrimento mental e buscam a referida religião no sentido de apaziguar ou dirimir sua experiência de aflição. A abordagem metodológica utilizada – a cartoetnografia (PORTUGAL; NUNES, 2015) - envolveu entrevistas não-estruturadas e observação participante. Os dados foram analisados com base na hermenêutica crítica e no artefato intitulado “matriz cartoetnográfica de linhas de pensamento”. Pudemos verificar que se perceber como candomblecista envolve um aprimoramento do cuidado de si que perpassa duas dimensões centrais: a transformação da expressão e da estética corporal, assim como um esforço de reelaboração do espaço da casa; ambos no sentido de afirmar-se como candomblecista e seu pertencimento a esse grupo religioso. A partir disso, concluímos que o “tornar-se filho de santo” incrementa o cuidado de si e propicia, consequentemente, um adensamento da rede social de apoio, do reconhecimento (HONNETH, 2003) e de elaboração tática do cotidiano (DE CERTEAU, 1998).