A disputa sobre os quadrinhos: infância, arte e censura na imprensa brasileira
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2019.v14.25907Resumo
A 1ª Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, inaugurada dia 18 de junho de 1951 no Centro Cultura e Progresso, em São Paulo, foi pioneira em sua tentativa de promover os quadrinhos à condição de linguagem artística, em paridade com o cinema e a literatura. Ao expor painéis originais que traçavam paralelos entre os quadrinhos, chamada “arte sequencial”, e essas outras formas de mídia, os organizadores, Álvaro de Moya, Jayme Cortez, Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado, engendraram um vigoroso debate acerca do papel formador das histórias em quadrinhos e, mais ainda, dos tênues limiares que separam o que pode vir a ser, ou não, arte. A posição ocupada pelos quadrinhos na imprensa brasileira vinha sendo alargada desde os anos 1940, sendo elas, para além de um passatempo, o objeto de um fragmentário debate público dentro os jornais, do qual a 1ª Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos surgiu como resposta. O acometimento, por um lado, em reiterar os atributos educacionais e lúdicos dos quadrinhos era continuamente freado pela reprimenda de grupos contrários às suas “influências desvirtuantes” e seus “ruidosos efeitos sobre a juventude”. A disputa em favor da consagração das histórias em quadrinhos, por um lado, e em favor da sua censura, por outro, foi a manifestação última de grupos e de projetos bastante distintos, cada qual com imagens bem específicas do que a arte deve ser. A recuperação desse registro, documentado predominantemente por periódicos cariocas e paulistas, passa a ser, então, uma chave para pensar em como o aporte do jornal moderou ricos encontros entre diferentes obras, pessoas e ideias, colocando adiante questionamentos e soluções.