O feitiço do jogo: masculinidades no Parque Halfeld de Juiz de Fora
DOI:
https://doi.org/10.34019/2318-101X.2018.v13.12400Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar os aspectos simbólicos e práticas sociais envolvidos na sociabilidade promovida pelo jogo de cartas entre homens, predominantemente velhos, que ocorre diariamente em um espaço público de sociabilidade da cidade de Juiz de Fora chamado Parque Halfeld. A palavra “feitiço” utilizada no título refere-se à intensidade da forma como o jogo cativa o jogador, resultando em uma sociabilidade em que o conteúdo do jogo e os jogos sociais, construídos a partir dele, são os grandes motivadores. Para além do jogo propriamente dito, o feitiço só se realiza plenamente juntamente ao jogo social das relações jocosas que envolve provocações verbais e performances corporais de indecência e grosseria, mediadas por um “saber brincar”. É também de forma jocosa que temas como a velhice e a masculinidade são colocados em jogo, sem que precisem ser levados a sério. Sendo uma sociabilidade masculina, as experiências encontradas em campo e a frase “vê se vira homem” ilustram uma constante (re)construção de masculinidades a partir de gestos e discursos que visam atribuir características femininas a um homem em busca de desqualificá-lo perante os outros, colocando em jogo a masculinidade do acusado mediante a homofobia. Tratando do tema da sexualidade na velhice, à despeito das expectativas de gerontólogos, que sugerem que se busque novas zonas erógenas, o interesse sexual de jogadores e espectadores aparecem ainda fortemente associados ao modelo hegemônico de masculinidade que confere intensa valorização à penetração e ao desempenho erétil.