A classificação funcional no processo de construção de identidades entre atletas de esportes adaptados
Resumo
A partir de três situações vivenciadas durante o processo de classificação funcional, através do qual os atletas de esportes adaptados são alocados em classes que buscam equilibrar as disputas esportivas a partir de suas potencialidades, irei discutir alguns aspectos que se relacionam com as definições de saúde e deficiência neste grupo. Desde meados de 2013 estou realizando trabalho de campo junto à Associação Niteroiense do
Deficiente Físico (ANDEF/RJ) e acompanhando competições regionais e nacionais que envolvem estes atletas. Nestas, pude acompanhar a realização de algumas classificações, em particular na bocha e de atletismo, que
possibilitaram a construção de questões que apontam para uma relativização da categoria “pessoa com deficiência” como possuidora de um estigma social (Goffman, 1993). Dialogando com a perspectiva da contextualidade das construções identitárias, o trabalho de campo tem mostrado que esta atribuição pode ser ansiada por aqueles cuja alternativa seria estar situado em um permanente “between and betwixt” (Turner, 2005), ou seja, em uma situação na qual sua “deficiência”, embora suficientemente reconhecida para não ser visto como “normal” pela sociedade mais ampla, tampouco é considerada suficiente para classifica-los dentro dos parâmetros do esporte adaptado. Ao mesmo tempo, este processo – na medida em que pode definir as possibilidades
de sucesso esportivo– pode ser entendido como um momento no qual os classificadores – médicos e profissionais de Educação Física – são vistos como “obstáculos” na conquista da melhor classificação possível, enquanto os atletas e técnicos são muitas vezes pensados, por aqueles, como apresentando um permanente risco de tentar fraudar o processo, exagerando limitações motoras.