“Lida brabíssima”: A cultura da caça como constituidora da relação entre humanos e animais na pecuária extensiva no pampa brasileiro.
Resumo
Dando seguimento à reflexão do “INRC – Lidas Campeiras na região de Bagé”, pesquisa que descreveu as práticas – entendidas como lidas campeiras - associadas à atividade da pecuária no pampa brasileiro, esta etnografia trata da lógica da caça como constituidora do modo de vida dos peões campeiros durante o manejo das atividades da criação extensiva de rebanhos bovinos, equinos e ovinos. Atenta-se para os diferentes manejos dos rebanhos – o “tradicional” e o “racional” –, em que figuram diferentes percepções acerca das relações entre humanos e não humanos. O modo de vida dos campeiros, que têm habilidade no manejo destas práticas, está diretamente relacionado com outros animais, artefatos e ambientes característicos do pampa. O aprendizado do trabalho consiste numa “educação da atenção” (INGOLD, 2010), na qual as habilidades são incorporadas por meio da percepção e da convivência entre humanos e não humanos. A lida campeira é concebida como brabíssima, visto que é preciso encarar as intempéries climáticas e os animais xucros, demandando muita força física que, na linguagem do campeiro, significa ter “força no braço”. A partir da descrição do gosto destes trabalhadores por manter relações próximas à caça com animais de criação – correr atrás do boi, laçá-lo –, propomos refletir sobre as lidas campeiras como modo de vida pautado pelas noções de caça e domesticação tanto de animais humanos quanto de animais não humanos.