A economia imaginada do capitalismo agrário brasileiro: notas de pesquisa.
Resumo
Neste artigo procuramos argumentar que a formação do “agronegócio” brasileiro contou com uma forte atividade intelectual em sua origem, foi assim dependente de uma economia imaginada que forneceu o aparato cognitivo necessário para a coordenação das práticas e sua institucionalização. Mais do que descrever a realidade, a teoria econômica produz performativamente a economia real, num jogo de interações e lutas entre atores, ideias e redes técnicas e institucionais. Embora comporte certa heterogeneidade, as práticas e políticas que interferiram nas transformações no mundo rural brasileiro entre as décadas de 1960 e 1980 estiveram relacionadas à hegemonia de uma economia imaginada, que interpretou a questão agrária como um problema de modernização da base técnica da agricultura e identificou a grande propriedade como espaço ideal para a realização de um ideal industrial de produção agrícola, em lugar de interpretações concorrentes que tendiam a ver na estrutura agrária um obstáculo para a modernização e preferiam soluções reformistas. Sugerimos também que há linhas importantes de continuidade entre este imaginário e a emergência do “agribusiness” nos anos 1990, embora visto em contexto político distinto, marcado pela redemocratização, o que implica na reconfiguração das relações estado – sociedade e em maior heterogeneidade institucional.