O papel das vítimas nas narrativas jornalísticas sobre o desastre em Mariana

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.34019/1981-4070.2018.v12.21516

Palabras clave:

jornalismo, vítimas, cobertura de desastres, desastre de Mariana, pathos

Resumen

Nosso objetivo é analisar como as narrativas dos telejornais configuraram as manifestações das vítimas do desastre em Mariana (MG) nas primeiras 24 horas de cobertura da Rede Globo de Televisão. A intenção do trabalho é refletir sobre como o jornalismo transpõe um problema individual para o âmbito de problema público a partir dos aportes teóricos de Queré (2011), Lage (2013; 2016) e Charaudeau (2007; 2010). Entre as 27 inserções veiculadas sobre o rompimento da barragem de rejeitos, analisamos as cinco reportagens que apresentaram um total de 11 depoimentos de vítimas. Sistematizamos quais tiveram visibilidade de acordo com o grau de proximidade com o acontecimento. Também observamos como o jornalismo evocou suas falas e que efeitos patêmicos foram mobilizados a partir destes depoimentos. Concluímos que as narrativas jornalísticas se utilizam das manifestações das vítimas com efeitos patêmicos mais ligados à aflição, terror e tristeza. A maior parte das vítimas sequer é identificada pelas reportagens e suas manifestações são da ordem do sofrimento, sendo silenciadas menções às causas, riscos e vulnerabilidades do desastre ou a qualquer tipo de indignação pelo ocorrido.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Márcia Franz Amaral, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM)

Professora associada do curso de Comunicação Social - Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Maria. Investigadora do CNPq. Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado pela Universitat Pompeu Fabra (Barcelona). Líder do Grupo de Pesquisa Estudos de Jornalismo.

Juliana Motta, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM)

Doutoranda e Mestre (2016) pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Midiática da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e membro do Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (UFSM/CNPq). Jornalista graduada pela UFSM (2004), dedica-se ao estudo de temas como testemunho, cobertura de desastres e transmissão ao vivo em televisão. 

Citas

AMARAL, M. A representação dos testemunhos no discurso das catástrofes ambientais: de sujeitos sociais a sujeitos discursivos. Revista Fronteiras, v.15, n.3, p. 182- 190, 2013. Disponível em: < http://revistas.unisinos.br/index.php/fronteiras/article/view/fem.2013.153.04>. Acesso em: 31 jul. 2018.

ARAÚJO, P. A vertigem do momento: o poder do sofrimento e da morte e a ilusão da força das vítimas. In: MARTINS, M.; CORREIA, M.; VAZ, P.; ANTUNES, E. (Eds.). Figurações da morte nos média e na cultura: entre o estranho e o familiar. Braga, Portugal: CECS- Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, 2016, p. 113-130.

BECKER, B. Televisão e telejornalismo: transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.

CHARAUDEAU, P. Pathos. In: CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. (Orgs.) Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2014, p. 371- 372.

______. Patemização na televisão como estratégia de autenticidade. In: MENDES, E.; MACHADO, I. (Orgs.) As emoções no discurso: volume II. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2010, p. 23- 56.

______. Pathos e o discurso político. In: MENDES, E.; MACHADO, I (Orgs.) . As emoções no discurso: volume I. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2007, p. 240- 251.

FERNANDES, A. A emoção no discurso jornalístico: contar histórias e comover leitores. In: MENDES, E.; MACHADO, I (Orgs.) As emoções no discurso: volume II. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2010, p. 141- 152.

FRANÇA, V. O acontecimento para além do acontecimento: uma ferramenta heurística. In: FRANÇA, V.; OLIVEIRA, L. (Orgs.). Acontecimentos: reverberações. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

HAGEN, Sean. A emoção como agente da cognição jornalística. In: VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), nov. , 2008.

JÁUREGUI, Carlos. Cães, indignados e indignos: o pathos da indignação no discurso jornalístico. 266f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.

LAGE, Leandro. Testemunhos do sofrimento nas narrativas jornalísticas:corpos abjetos, falas inaudíveis e as (in)justas medidas do comum. 218fp. Tese (Doutorado em Comunicação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.

_____. Notas sobre narrativa e acontecimento jornalístico. In: LEAL, B.; CARVALHO, C. (Orgs.). Narrativas e poéticas midiáticas: estudos e perspectivas. São Paulo: Intermeios, 2013.

LOZANO ASCENCIO, C., SÁNCHEZ CALERO, M.; MORALES CORRAL, E. Periodismo de riesgo y catástrofes: en los telediarios de las principales cadenas de televisión en España. Madrid, España: Editorial Fragua, 2017.

MOTTA, J.; AMARAL, M. Os testemunhos na cobertura jornalística do caso Kiss: transbordamento emocional e provas de verdade. Estudos em Jornalismo e Mídia, v.13,n.1, p. 77 a 88, 2016. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/1984-6924.2016v13n1p77>. Acesso em: 31 jul. 2018.

MOTTA, Luiz Gonzaga. Análise crítica da narrativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013.

PANTTI, M.; WAHL-JORGENSEN, K. On the political possibilities of therapy news: media responsibility and the limits of objectivity in disaster coverage. Estudos em Comunicação, v.1, p. 3- 25, 2007.

QUERÉ, Louis. Entre facto e sentido: a dualidade do acontecimento. Trajectos, Revista de Comunicação, Educação e Cultura, n. 6, p.59- 75, 2005. Disponível em: < https://bit.ly/2ArWgCN>. Acesso em: 31 jul. 2018.

STAVO-DEBAUGE, Joan. A (in)experiência das vítimas e a “mitologia do acontecimento”. In: FRANÇA, Vera; OLIVEIRA, Luciana (Orgs.). Acontecimento e reverberações. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012, p. 125-141.

SELLIGMAN-SILVA, Márcio. Testemunho e a política da memória: o tempo depois das catástrofes. Proj. História, v.30, p. 71- 98, 2005. Disponível em: < https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/2255>. Acesso em: 31 jul. 2018.

Publicado

2018-08-30

Cómo citar

AMARAL, M. F.; MOTTA, J. O papel das vítimas nas narrativas jornalísticas sobre o desastre em Mariana. Lumina, [S. l.], v. 12, n. 2, p. 40–58, 2018. DOI: 10.34019/1981-4070.2018.v12.21516. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21516. Acesso em: 23 nov. 2024.

Número

Sección

Dossiê: Comunicação, Condição da Vítima e Políticas de Sofrimento