v. 31 n. 1 (2025): Locus: Revista de História _V.31, N.1 (2025)
Artigos

O patrimônio enquanto inconsciente da historiografia

Rogério Mattos
Biografia

Publicado 2025-08-11

Palavras-chave

  • patrimônio,
  • historiografia,
  • culturanegra,
  • africa,
  • rio de janeiro

Como Citar

Mattos, Rogério. 2025. “O patrimônio Enquanto Inconsciente Da Historiografia”. Locus: Revista De História 31 (1):132-57. https://doi.org/10.34019/2594-8296.2025.v31.45751.

Resumo

O patrimônio é o inconsciente da historiografia enquanto permanecer inconsciente da história da disciplina. Mas se a historiografia é inconsciente do patrimônio, enquanto isso durar, dificilmente uma visão maior e mais articulada sobre a História poderá emergir, assim como permanecerá o desconhecimento de avanços políticos, sociais e epistemológicos das últimas décadas. O caso do Rio de Janeiro propõe um estudo digno de interesse por envolver temporalidades e abordagens múltiplas, mas especialmente ao patrimônio de herança negra e africana (desde os anos 1980) e como (junto com as descobertas mais recentes) essa geografia permite mudanças importantes tanto para as narrativas do passado quanto para o ensino da história. Na primeira parte resgato alguns questionamentos referenciais da história da historiografia no Brasil, a necessidade da disciplinar interrogar sua memória. Na segunda parte estendo as referências para o debate fora do país para dar conta das implicações políticas da teoria e dos usos de alguns referenciais teóricos geralmente não debatidos no campo. Na terceira parte me debruço sobre a noção de patrimônio histórico no Brasil e destaco o caso carioca e o patrimônio cultural de referência negra da cidade. Na conclusão, faço alguns encaminhamentos possíveis para a abordagem que proponho e reafirmo a crença na razão de que para obter avanços importantes hoje na escrita e no ensino da história a historiografia e a vivência do e no patrimônio devem ser incorporados a ambos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

  1. ABREU, Martha; MATTOS, Hebe; DANTAS, Carolina Vianna. Em torno do passado escravista: as ações afirmativas e os historiadores. Antíteses, vol. 3, n. 5, pp. 21-3, jan.-jun. de 2010.
  2. ARAÚJO, Leon. Terreiro da Goméia e Patrimônio como Performance: negociação, resiliência e solidariedade. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.
  3. ARAUJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na formação nacional brasileira (1813-1845). São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.
  4. ARAUJO, Valdei Lopes de. O século XIX no contexto da redemocratização brasileira: a escrita da história oitocentista, balanço e desafios. In: OLIVEIRA, Maria Glória de; ARAUJO, Valdei Lopes de. Disputas pelo passado: História e historiadores no Império do Brasil. Ouro Preto: Edufop/PPGHIST, 2012, p. 9 – 42.
  5. BAZIN. André. O que é cinema? São Paulo: UBU Editora, 2018.
  6. BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989.
  7. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
  8. CARVALHO, Bruno. Cidade porosa: dois séculos de história cultural do Rio de Janeiro. São Paulo: Objetiva, 2019.
  9. CEZAR, Temístocles. Ser historiador no século XIX: o caso Varnhagen. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.
  10. CEZAR, Temístocles; KNAUSS, Paulo. O historiador e o viajante: itinerário do Rio de Janeiro a Jerusalém. In GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil: 1838-1857. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
  11. CHUVA, Márcia. Parque do Flamengo: projetar a cidade, desenhando patrimônio. Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. 25, nº3, p. 139-166, setembro-dezembro 2017.
  12. CHUVA, Márcia. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e civilizado. TOPOI, v. 4, n. 7, pp. 313-333, jul.-dez. 2003.
  13. CHUVA, Márcia. Da referência cultural ao patrimônio imaterial: introdução à história das políticas de patrimônio imaterial no Brasil. In REIS, Alcenir Soares dos & FIGUEIREDO, Betania Gonçalves. Patrimônio Imaterial em perspectiva. Belo Horizonte: Fino Traço, pp.25-49, 2015.
  14. CHUVA, Márcia. Possíveis narrativas sobre duas décadas de patrimônio: de 1982 a 2002. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 35, 2017.
  15. CHUVA, Márcia. Entre a herança e a presença: o patrimônio cultural de referência negra no Rio de Janeiro. Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. 28, p. 1-30, 2020.
  16. DELEUZE, Gilles. Kafka: para uma literatura menor. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.
  17. DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007.
  18. DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – A imagem-movimento. São Paulo: Editora 34, 2018.
  19. DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas ou o gaio saber inquieto. Lisboa: KKYM, 2013.
  20. DIDI-HUBERMAN, Georges. Pueblos expuestos, pueblos figurantes. Buenos Aires: Manantial, 2014.
  21. DOLHNIKOFF, Miriam. O Projeto Nacional de José Bonifácio. Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, n. 46, p. 121- 141, nov. 1996.
  22. FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
  23. FRAGOSO, João Luís Ribeiro; FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia: Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1840. Rio de Janeiro: Record, 2001.
  24. GONTIJO, Rebeca. (2011). Tal história, qual memória? Capistrano de Abreu na história da historiografia brasileira. Projeto História: Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados De História, 41.
  25. GUIMARAENS, Cêça. Paradoxos entrelaçados: as torres para o futuro e a tradição nacional. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.
  26. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil: 1838-1857. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
  27. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. História, memória e patrimônio. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 34, 2012.
  28. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Ensaios de historiografia. Vitória: Editora Milfontes, 2022.
  29. GUIMARÃES, Roberta Sampaio. Lutas sociais, bens culturais e políticas de reconhecimento: Entrevista com Joel Rufino. Dilemas, Rev. Estud. Conflito Controle Social; Rio de Janeiro: Vol. 15, nº 1, pp. 411-429, jan-dez, 2022.
  30. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto : Ed. PUC-Rio, 2010.
  31. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2014.
  32. HUSSERL, Edmund. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
  33. LACERDA, Rodrigo. Participação e patrimônio histórico imaterial: o estudo de caso de “Tava, lugar de referência para o povo guarani”. Comunicação e Sociedade, vol. 36, 2019
  34. LIMA, Monica. História, patrimônio e memória sensível: o Cais do Valongo no Rio de Janeiro. Outros Tempos, vol. 15, n. 26, p. 98 – 111, 2018.
  35. MARQUES, Wilton José. Gonçalves Dias: o poeta na contramão. São Paulo: EDUFSCar, 2010.
  36. MATTOS, Rogério. (2017) Um modo de ser cínico: Manoel Salgado e a nova historiografia. Revista Expedições: teoria da história e historiografia. Morrinhos, v. 8 n. 3, p. 416 – 434, 2017.
  37. MENEZES, Ulpiano Bezerra de. O campo do patrimônio cultural: uma revisão de premissas. I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural: Sistema Nacional de Patrimônio Cultural : desafios, estratégias e experiências para uma nova gestão, Ouro Preto/MG, 2009 / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; coordenação, Weber Sutti.-- Brasília, DF : Iphan, 2012.
  38. NASCIMENTO, Flávia Brito. Olhar a rua: Cotidiano, fotografia e preservação do Centro do Rio nos anos 1980. In MAUAD, Ana Maria (org.). Fotograficamente, Rio a cidade e seus temas. Niterói: PPGHistória – LABHOI – UFF/FAPERJ, 2016.
  39. NASCIMENTO, Flávia Brito. Patrimônio Cultural e escrita da história: a hipótese do documento na prática do Iphan nos anos 1980. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.24. n.3. p. 121-147. set.-dez. 2016.
  40. NASCIMENTO, Flávia Brito. Construção da ideia de patrimônio moderno no Brasil: Valorações e práticas dos anos 1940 aos 2000. Thésis, Rio de Janeiro, v. 5, n. 9, p. 85-106, nov. 2020.
  41. NOVAIS, Fernando Antônio. Aproximações: ensaio de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
  42. OLIVEIRA, Maria da Glória de. (2013). Historiografia, memória e ensino de história: percursos de uma reflexão. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 6, n. 13, p. 130–143, 2013.
  43. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
  44. SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das letras, 2015.
  45. SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. A invenção do Brasil: ensaios de história e cultura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
  46. SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira República. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
  47. SILVA, Maurício. O sorriso da sociedade – literatura e academicismo no Brasil da virada do século (1890-1920). São Paulo: Alameda, 2013.
  48. SUSSEKIND, Flora. O Brasil não é longe daqui: o narrador, a viagem. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.