v. 27 n. 1 (2021): Dossiê - Visões da História Chinesa
Dossiê

Para que nos servem os súditos do filho do céu? Raça, miscigenação e branqueamento nos debates sobre a Imigração Chinesa (1850-1890)

Silvio Cezar de Souza Lima
Universidade Federal Fluminense

Publicado 2021-05-13

Palavras-chave

  • História,
  • Imigração Chinesa,
  • Racismo Científico,
  • Brasil Império,
  • Branqueamento

Como Citar

Cezar de Souza Lima, Silvio. 2021. “Para Que Nos Servem Os Súditos Do Filho Do céu? Raça, miscigenação E Branqueamento Nos Debates Sobre a Imigração Chinesa (1850-1890)”. Locus: Revista De História 27 (1):178-202. https://doi.org/10.34019/2594-8296.2021.v27.33075.

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar os discursos promovidos pelas elites imperiais brasileiras contra a imigração chinesa para o Brasil entre 1850 e 1890. Estes discursos eram informados por uma gama de preconceitos, baseados na hierarquização das raças humanas e percepções eurocêntricas de progresso. Em seus escritos sobre a imigração chinesa, intelectuais, políticos, médicos e fazendeiros condenavam a vinda de imigrantes para o Brasil alegando que estes trariam vícios, costumes incivilizados e se miscigenariam, “degenerando ainda mais” o tipo racial nacional. Utilizo, como documentos históricos: livros, artigos em periódicos especializados, artigos de jornais, relatórios e os anais do Congresso Agrícola de 1878, buscando compreender os discursos avessos à imigração chinesa no contexto maior dos debates sobre imigração europeia, crise de mão de obra na agricultura cafeeira e a formação da identidade nacional. Os discursos contrários à imigração chinesa demonstram o quanto as questões de colonização estavam ligadas à construção de uma identidade nacional europeizada. As políticas nacionais de imigração eram percebidas ao mesmo tempo como colonizadoras e civilizatórias, dirigidas por uma elite preocupada em homogeneizar a nação, europeizando e branqueando o Brasil.

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