ENTRELACES DA TERRA E DA CARNE:
caminhos para (eco)fenomenologias da realidade geográfica
DOI:
https://doi.org/10.34019/2236-837X.2024.v14.42144Resumen
A fenomenologia merleau-pontiana possui significativas contribuições para a reflexão acerca das questões socioambientais, especialmente em suas investigações sobre a natureza, a Terra, a carne e o quiasma. Cada qual em sua virtualidade, esses conceitos colaboram para elucidar as dinâmicas existenciais dos mundos mais-que-humanos. Tais concepções foram recentemente retomadas pelos teóricos da ecofenomenologia e possibilitam pontos de interação para a expansão da perspectiva geográfico-fenomenológica de Dardel. Desse modo, esse ensaio objetiva perscrutar a potencialidade da análise filosófica da natureza composta pelas obras tardias de Merleau-Ponty e de suas revisões contemporâneas para a compreensão da realidade geográfica. Para tanto, realiza-se uma análise geográfica e filosófica que articula o pensamento merleau-pontiano com as (re)interpretações ecofenomenológicas. Entende-se que a Terra é o arco originário da experiência que garante a ontogênese carnal dos fenômenos como entrelaces existenciais. Nesse sentido, é por meio dela que a realidade geográfica pode emergir como potencialidade experiencial mais-que-humana por meio da qual há relações de intercorporeidade e intersubjetividade. Tomada em seu nexo primacial, a condição carnal da Terra é uma dimensão de unicidade e de partilha de mundos que pluralizam a experiência geográfica, com especial foco para a dinâmica transpessoal e outra-que-humana dos afetos que nela são partilhados em reciprocidade e reversibilidade. Conclui-se que outras formas de ver, sentir e ser-da-e-na-Terra podem colaborar para minar o especismo humano que está entre os baluartes das fissuras ecológicas contemporâneas.
Palavras-chave: Carnalidade; Quiasma; Natureza; Mundos mais-que-humanos; Geografia Humanista.