Entre o Esquecimento e a Resistência:
A Gestão Necropolítica da Pandemia nas Periferias Urbanas
Palavras-chave:
necropolítica, Pandemia, periferias urbanas, rituais fúnebres, exclusão socialResumo
O presente artigo traz à tona um material escrito originalmente durante os anos mais intensos da pandemia de Covid-19 (2020-2022). Em 2025, como tentativa científica de não esquecimento e como gesto de resgate de uma memória que ainda hoje me afeta sensivelmente, decido publicar este texto. A escolha de manter a forma original da escrita, no tempo presente, permite preservar a densidade do momento vivido e, ao mesmo tempo, realizar uma reflexão crítica desde o agora, atualizando os sentidos da pandemia (2020-2022) e seus desdobramentos sociais. O presente artigo propõe uma análise crítica, de natureza autoetnográfica, das discussões promovidas durante um grupo de estudos intitulado “Conflitos Sociais nas Periferias Brasileiras", desenvolvido em colaboração entre os grupos de pesquisa Observatório Fluminense (UFRRJ) e Distúrbio – Dispositivos, Tramas Urbanas, Ordens e Resistências (UERJ). A reflexão parte da conjuntura pandêmica iniciada em 2020 considerando como tal contexto atravessou os debates acadêmicos e afetou subjetivamente os participantes. Com base em observações das intervenções intelectuais e militantes apresentadas ao longo do grupo de trabalho, buscou-se compreender os efeitos das políticas públicas — ou da ausência destas — sobre os corpos marginalizados durante a pandemia (2020-2022) O trabalho estabelece conexões entre as políticas sanitárias de emergência e os procedimentos de desaparecimento simbólico de corpos, sobretudo os racializados e periféricos, explorando a continuidade histórica desses dispositivos de invisibilização desde a ditadura militar até a pandemia de Covid-19 (2020-2022).
Downloads
Referências
ANTUNES, Ricardo. Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.
BENETTI, Pedro; CHALOUB, Jorge; LIMA, Pedro Luiz; MEDEIROS, Josué. A pandemia, o bolsonarismo e a tragédia da democracia brasileira. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Seção Especial Reflexões na Pandemia, 2020.
BIRMAN, Patrícia; PIEROBON, Camila. Viver sem guerra? Poderes locais e enfrentamentos de gênero no cotidiano popular. Rio de Janeiro, 2021.
BONTEMPO, Valéria Lima. Necropolítica, resistência, sacrifício e terror. Organon, Porto Alegre, v. 35, n. 69, p. 1–7, 2020. E-ISSN 2238-8915. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-8915.109468.
BRASIL. Ministério da Saúde. Brasil atinge menor número de casos e mortes por Covid-19 desde 2020. Brasília: Ministério da Saúde, 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/brasil-atinge-menor-numero-de-casos-e-mortes-por-covid-desde-2020. Acesso em: 2 out. 2025.
CORTES, Mariana; MACHADO, Carly. Editorial: Religiões e Pandemia. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 41, n. 2, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0100-85872021v41n2editorial.
DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO. Escuta da sociedade civil sobre combate à pandemia de Covid-19 nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020.
DISTÚRBIO/UERJ – Programa de Extensão em Arte, Política e Práticas Sociais. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.disturbio.uerj.br. Acesso em: 17 out. 2025.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 1989.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
FERNANDES, Camila. “Aí eu não aguentei e explodi”: a expressão do “nervoso” feminino no cuidado com as crianças em territórios de favela. Etnografías Contemporáneas, v. 6, n. 10, p. 154-178, 2020.
G1. Brasil tem maior média móvel de casos de Covid desde agosto; total de mortes chega a 181 mil. G1, Brasil, 12 dez. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/12/12/casos-e-mortes-por-coronavirus-no-brasil-em-12-de-dezembro-segundo-consorcio-de-veiculos-de-imprensa.ghtml. Acesso em: 2 out. 2025.
GODOI, Rafael; ARAÚJO, Fábio; MALLART, Fábio. Espacializando a prisão: a conformação dos parques penitenciários em São Paulo e no Rio de Janeiro. Novos Estudos CEBRAP, 2019.
GUERREIRO, Clayton; ALMEIDA, Ronaldo de. Negacionismo religioso: Bolsonaro e lideranças evangélicas Na pandemia covid-19. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 41, n. 2, p. 49-73, 2021.
HODGES, Charles; MOORE, Stephanie; LOCKEE, Barbara; TRUST, Torrey; BOND, Aaron. The difference between emergency remote teaching and online learning. EDUCAUSE Review, 27 mar. 2020. Disponível em: https://er.educause.edu/articles/2020/3/the-difference-between-emergency-remote-teaching-and-online-learning. Acesso em: 2 out. 2025.
LEACH, Edmund R. Ritualization in man in relation to conceptual and social development, In: LESSA, Willian e VOGT, Evan F, (orgs.) Reader in comparative religion. New york, Harper e Raw, 1972. p.333-337.
MACHADO, Carly. Rebanho de quem? Sobre religião, contágio e ideias que viralizam em tempos de pandemia. DILEMAS – Rio de Janeiro – Reflexões na Pandemia, [S. l.], p. 1-14, 2020.
MAGALHÃES, Alexandre. A guerra como modo de governo em favelas do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2020. (No prelo).
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Revista Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 122-136, dez. 2016.
MOUFFE, Chantal. Sobre o político. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
MALLART, Fábio; ARAÚJO, Fábio. Causa mortis determinada: a prisão. Le Monde Diplomatique Brasil, 29 abr. 2020.
MALLART, Fábio; ARAÚJO, Fábio. As valas comuns: imagens e políticas da morte. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Seção Especial Reflexões na Pandemia, 2020.
NATURE. Global excess deaths associated with Covid-19 (2020–2021). Nature, v. 605, p. 335–341, 2022. DOI: 10.1038/s41586-022-05522-2. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-022-05522-2. Acesso em: 2 out. 2025.
OBSERVATÓRIO FLUMINENSE. Apresentação institucional e projetos em andamento. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Disponível em: https://observatorio.ufrrj.br. Acesso em: 17 out. 2025.
OLIVEIRA, Cardoso R. O trabalho do antropólogo. São Paulo: UNESP, 2000.
PEIRANO, Mariza. A teoria vivida e outros ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
POLLAK, Michael. Mémoire, oubli, silence. In: ———. Une identité blessée: études de sociologie et d’histoire. Paris: Éditions Métailié, 1993. p. 13-39.
RUI, Taniele. A inconstância do tratamento: no interior de uma comunidade terapêutica. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Seção Especial Reflexões na Pandemia, 2020.
SANJURJO, Liliana; AZEVEDO, Desirée; NADAI, Larissa. Corpos, tempo e instituições: um olhar sobre os cemitérios na pandemia de Covid-19. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Seção Especial Reflexões na Pandemia, 2020.
SILVA, Andreia. Os ritos “possíveis” de morte em tempos de coronavírus. Dilemas – Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Seção Especial Reflexões na Pandemia, 2020.
WACQUANT, Loïc. Corpo e alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 CSOnline - REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todos os artigos científicos publicados na CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais estão licenciados sob uma Licença Creative Commons
