Rio, Ruas e Sambas:
a construção do Rio de Janeiro enquanto uma cidade musical
DOI:
https://doi.org/10.34019/1981-2140.2021.34214Palavras-chave:
Sociabilidades, Caleidoscópio social, Samba, Cultura, Rio de JaneiroResumo
O presente artigo procura analisar o processo de constituição do Rio de Janeiro enquanto uma cidade musical. Mais precisamente, sua composição no território enquanto uma cidade do Sul Global foi produzida a partir de múltiplos processos sociais ao longo do tempo, engendrando uma sociedade ao mesmo tempo cosmopolita e desigual. O artigo traz a imagem de um caleidoscópio social, representativo de um movimento espontâneo pelo qual a população se misturaria e se relacionaria, entre si e externamente, de modo diverso em fluxos múltiplos ao longo do tempo, tendo em vista que as relações sociais estão em permanente transformação. As iniciativas seriam tomadas por entre as brechas que haviam no interior das políticas repressivas e excludentes sobre os segmentos populares de maioria negra, ou seja, os indivíduos pertencentes a esses estratos participariam da vida social conjunta, coletivamente construindo seus laços sociais, sua identidade em comum, expressando suas concepções de mundo e consolidando-se enquanto grupo social ativo através das manifestações culturais, nas festas, meios musicais e artísticos em geral, ainda que limitados a períodos e ambientes restritos.
A partir de uma metodologia de revisão histórica da formação da cidade e de algumas experiências de atores sociais importantes para o samba, pretendo destacar os espaços de sociabilidade comuns à população, tais como as ruas, avenidas e praças, bem como locais de natureza privada, como as residências e os botequins, os quais, de maneira conflituosa, possibilitariam a construção das redes de sociabilidade interna e a reterritorialização de espaços musicais. Procuro, ainda, apontar como essa coesão interna transbordou para além de grupos sociais restritos a uma esfera local, a partir de intensas relações sociais e da circularidade cultural, espalhando assim a “vocação musical” da cidade do Rio de Janeiro como uma produção moderna exterior ao poder colonial cultural.
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