Rede sociotécnica de desinformação: desafios para fortalecer o bem comum na era digital

Autores

Palavras-chave:

Desinformação, Neoliberalismo, Cidadania, Plataformas, Consumo midiático

Resumo

Este artigo explora a transformação das plataformas de mídia social que, inicialmente, se autodefiniam como espaços colaborativos, mas que se converteram em empreendimentos capitalistas fundamentados na mercantilização de dados. Tendo isso em vista, discute-se como esse modelo de negócios intensifica o fenômeno da desinformação, entendido como uma problemática sociotécnica, e contribui para o enfraquecimento do exercício da cidadania no contexto contemporâneo. Para tanto, são apresentadas reflexões teóricas sobre consumo midiático, neoliberalismo, plataformização, desinformação e cidadania, explorando como a governabilidade algorítmica e neoliberal dessas plataformas molda comportamentos, reconfigura a produção de conhecimento e fortalece narrativas desinformativas, ao mesmo tempo que contribui para a fragmentação da esfera pública. A partir disso, compreende-se que tal modelo de negócios, estruturado a partir da economia da atenção e na maximização dos lucros por meio da datificação, além de contribuir com a disseminação de desinformação também limita significativamente o potencial democrático das redes digitais. Por fim, conclui-se que para os indivíduos possam exercer seu papel como cidadãos e beneficiar o bem comum, é preciso uma melhor governança sobre as plataformas e o fomento de uma conscientização social sobre seu funcionamento enquanto espaços datificados.

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Biografia do Autor

Isabela Afonso Portas, Escola Superior de Propaganda e Marketing - São Paulo

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo (PPGCOM-ESPM), bolsista CAPES - PROSUP

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Publicado

2025-04-30

Como Citar

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Edição

Seção

Desafios da Ciber-Resiliência: Construindo uma Cultura de Segurança Cibernética