Sujeição e agência à luz das instituições: o Diário do hospício de Lima Barreto
DOI:
https://doi.org/10.34019/1981-4070.2024.v18.45318Palabras clave:
Sujeição, Agência, Narrativa autiobiográfica, Biopolítica, Escritas de siResumen
O artigo investiga a relação entre sujeição e agência em contextos institucionais hospitalares, a partir do relato autobiográfico de Lima Barreto. Escrito entre dezembro de 1919 e fevereiro de 1920, o Diário do hospício documenta as condições adversas enfrentadas pelo autor durante sua internação no Hospital Nacional de Alienados. O texto desvela as interpelações da instituição na constituição de sujeitos precarizados, mas também revela um importante processo de agência e aparição dos corpos figurantes. A análise do diário de Lima Barreto é fundamentada em teóricos como Foucault, Fassin, Preciado e Butler. Barreto utiliza a escrita como um meio de transfigurar os enquadramentos opressivos impostos pela instituição, apresentando suas experiências e reflexões sobre a vida no hospício. A narrativa, dividida em capítulos temáticos, abrange desde a descrição da instituição e seus funcionários até a análise pessoal de sua condição e interações com outros internos. O artigo argumenta que o diário de Lima Barreto, mais do que um testemunho de opressão, representa um processo narrativo que questiona e desafia os quadros morais estabelecidos que separam o normal do patológico. Nesse contexto, a escrita emerge como um dispositivo de agência que possibilita a reinvenção de si e a resistência aos processos de sujeição.
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