Publicado 2025-02-02
Palavras-chave
- Boi-bumbá de Parintins.,
- Performance dramática,
- Afro-indígena.
Como Citar
Copyright (c) 2025 Socorro Batalha, Alvatir Carolino da Silva
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Resumo
A classificação erudita e acadêmica de Mário de Andrade sobre a brincadeira de boi é a mais difundida e citada por aqueles que estudam essas manifestações da cultura popular no Brasil. Trata-se de uma dança dramática, pois está estruturada em um enredo que envolve vida, morte e ressurreição, além da noção de que o boi é considerado um animal nacional, dada a presença dessa manifestação em várias regiões do país. Este texto apresenta uma discussão de base antropológica sobre as performances dramáticas nos espetáculos de boi em Parintins, onde o discurso indígena tem predominado e influencia grande parte dos critérios de julgamento que definem qual boi será o campeão da disputa anual. Embora muitos bois-bumbás tenham surgido no seio de famílias afro-brasileiras após o fim formal do regime escravocrata, o discurso afro só voltou a ganhar destaque nos espetáculos de Parintins nos últimos anos. O fundador do Boi Garantido, Lindolfo Monteverde, era um homem afro-indígena, já que seu pai, Marcelo, era indígena da etnia Munduruku e conhecido em Parintins, entre os séculos XIX e XX, como pai de santo. A mãe de Lindolfo, Dona Xanda, era filha de uma mulher preta que foi escravizada até os últimos dias do regime. O Boi Garantido é, portanto, uma manifestação afro-indígena e, nos últimos anos, tem resgatado discursos que estruturam suas performances dramáticas, conciliando as dimensões afro e indígena que fundamentam a base da sua existência.
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Referências
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