v. 26 n. 2 (2020): Dossiê - Patrimônio e Relações Internacionais
Dossiê

As timbila de Moçambique no concerto das nações

Sara Morais
UnB e IPHAN

Publicado 2020-09-10

Palavras-chave

  • Timbila,
  • Moçambique,
  • Patrimônio cultural imaterial,
  • Unesco

Como Citar

Morais, Sara. 2020. “As Timbila De Moçambique No Concerto Das nações”. Locus: Revista De História 26 (2):261-90. https://doi.org/10.34019/2594-8296.2020.v26.31269.

Resumo

O artigo discute aspectos do processo de patrimonialização das “timbila chopes” de Moçambique que culminou com sua proclamação pelo Programa das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade da Unesco em 2005. Inspirada em análises sobre processos de objetificação e redução semântica implicados no reconhecimento oficial de expressões como patrimônio cultural, abordo elementos da trajetória histórica e social das timbila para compreender seu lugar no imaginário nacional e sua escolha como o primeiro bem cultural imaterial em Moçambique consagrado em arenas internacionais. Enfatizei no decorrer do texto diversos elementos que localizam esse país africano no âmbito das suas relações internacionais; por um lado, discuto algumas das dinâmicas perpetuadas pelo colonialismo, as quais possibilitaram a divulgação das timbila para além do território colonizado e, por outro, reflito sobre a relação de Moçambique com a Unesco, à luz da história política do país e de sua recepção em relação a certos critérios e entendimentos desse organismo internacional no que tange ao patrimônio imaterial. Por fim, destaco as interpretações dadas pelo Estado moçambicano aos ideais de participação social da Unesco e mostro como o dossiê produzido pelo governo moçambicano utilizou o critério de autenticidade em voga naquele momento para descrever e justificar a escolha das timbila.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

  1. Abreu, Regina M.R.M. “Tesouros humanos vivos ou quando as pessoas transformam-se em patrimônio cultural - notas sobre a experiência francesa de distinção do Mestre da Arte”. Em Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos, org. Regina Abreu e Mario Chagas, 81-94. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2009.
  2. Arantes, Antonio. “Safeguarding. A key dispositif of UNESCO’s Convention of the Safeguarding of Intangible Cultural Heritage”. Vibrant, v. 3, n. 3 (2019): 1-17. https://doi.org/10.1590/1809-43412019v16d301
  3. Arquivo Histórico de Moçambique. Sala 1, Caixa 84. Fundo Direcção dos Serviços dos Negócios Indígenas, A/26, Expediente relacionado com a Exposição Colonial do Mundo Português em 1940.
  4. Arquivo Histórico de Moçambique. Notícias, 14 de dezembro de 1980, p. 10.
  5. Bortolotto, Chiara. “L’Unesco comme arène de traduction. La fabrique globale du patrimoine immatériel”. Em Le monde selon l’Unesco, org. David Berliner e Chiara Bortolotto, 50-73. Paris: Museu do Quai Branly, v. 18, 2013. https://doi.org/10.4000/gradhiva.2708
  6. Bortolotto, Chiara. “Patrimônio e o futuro da autenticidade”. Revista do Patrimônio. Patrimônio: desafios e perspectivas, Trad. Sara S. Morais, v. 36 (2017): 23-37.
  7. Dava, Fernando, Manuel Macia, e Roberto Dove. Reconhecimento e Legitimação das Autoridades Comunitárias à Luz do Decreto 15/2000 (O caso do grupo etnolinguístico ndau). Maputo, Moçambique: ARPAC - Instituto de Investigação Sócio-Cultural, 2003.
  8. De Jong, Ferdinand; Michael Rowlands, orgs. Reclaiming Heritage: Alternative Imaginairies of Memory in West Africa. Walnut Creek: Left Coast Press, 2007.
  9. De Jong, Ferdinand. “Le secret exposé. Révélation et reconaissance d’un patrimoine immatériel au Sénegal”. Em Le monde selon l’Unesco, org. David Berliner e Chiara Bortolotto, 98-123. Paris: Museu do Quai Branly, 2013. https://doi.org/10.4000/gradhiva.2722
  10. Dias, Juliana Braz. “Dançando ao som da poesia: gêneros da cultura popular e transformação de categorias sociais”. Em Travessias Antropológicas: estudos em contextos africanos, org. Wilson Trajano Filho, 297-314. Brasília: ABA Publicações, 2012.
  11. Dias, Margot. Instrumentos musicais de Moçambique. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical/Centro de Antropologia Cultural e Social, 1986.
  12. Duvelle, Charles. Aux sources des musiques du monde. Musiques de tradition orale. Paris: UNESCO, 2010.
  13. Farré, Albert. “Assimilados, régulos, Homens Novos, moçambicanos genuínos: a persistência da exclusão em Moçambique”. Anuário Antropológico, n. 2 (2015): 199–229. https://doi.org/10.4000/aa.1443
  14. Geffray, Christian. A Causa das Armas: Antropologia da Guerra Contemporânea em Moçambique. Portugal: Edições Afrontamento, 1991.
  15. Gilman, Lisa. “Demoniac or Cultural Treasure? Local Perspectives on Vimbuza, Intangible Heritage, and UNESCO in Malawi”. Journal or Folklore Research, v. 52, n. 2–3 (2015): 199–216 (UNESCO on the Ground: Local Perspectives on Global Policy for Intangible Cultural Heritage). https://doi.org/10.2979/jfolkrese.52.2-3.199
  16. Gonçalves, José Reginaldo Santos. A Retórica da Perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Minc-Iphan, 2002.
  17. Hafstein, Valdimar Tr. Making Intangible Heritage. El Condor Pasa and Other Stories from UNESCO. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 2018. https://doi.org/10.2307/j.ctv4v3086
  18. Handler, Richard. Nationalism and the Politics of Culture in Quebec. Wisconsin: University of Wisconsin Press, 1988.
  19. Handler, Richard; Linnekin, Jocelyn. “Tradition, Genuine or Spurious”. The Journal of American Folklore, v. 97, n. 385 (1984): 273–290. https://doi.org/10.2307/540610
  20. Handler, Richard. “Comments – Masterpieces of Oral and Intangible Culture: Reflections on the UNESCO World Heritage List”. Current Anthropology, v. 43, n. 1 (2002): 139-148. https://doi.org/10.1086/338287
  21. Jopela, Valdemiro. “Para uma caracterização da poesia oral nas timbila dos Vacopi e alguns aspectos do contributo português 1940-2005”. Tese de doutorado, Departamento de Literaturas Românicas, Universidade de Lisboa, 2006.
  22. Junior, Rodrigues. Moçambique: Terra de Portugal. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1965.
  23. Junod, Henri Philippe. “Some Notes on T∫opi Origins”. Bantu Studies, v. 3, n. 1 (1927): 57-71. https://doi.org/10.1080/02561751.1927.9676196
  24. Junod, Henri Philippe. “Os Indígenas de Moçambique no Século XVI e comêço [sic] do XVII, segundo os antigos documentos portugueses da época dos descobrimentos”. Moçambique: Documentário Trimestral, n. 17 (1939): 5-35.
  25. Junod, Henri-Alexandre. Cantos e Contos dos Rongas. Trad. Leonor Correia de Matos. Lourenço Marques: [s.n.], 1975.
  26. Junod, Henri-Alexandre. Usos e Costumes dos Bantu. Tomo II. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique, 1996.
  27. Lichuge, Eduardo Adolfo. “História, Memória e Colonialidade: Análise e releitura crítica das fontes históricas e arquivísticas sobre a música em Moçambique”. Tese, Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro, 2016.
  28. Marjay, Dr. Frederic. Moçambique. Lisboa: Bertrand Lda., 1963.
  29. Meneses, Maria Paula; Fumo, Joaquim; Mbilana, Guilherme; et al. “As autoridades tradicionais no contexto do pluralismo jurídico”. Em Conflito e Transformação Social: uma paisagem das justiças em Moçambique, org. Boaventura de Sousa Santos e João Carlos Trindade, 341-426. Porto: Edições Afrontamento, 2003.
  30. MOÇAMBIQUE. Chopi Timbila National Candidature File, 2004.
  31. Morais, Sara S. “O palco e o mato: o lugar das timbila no projeto de construção da nação em Moçambique”. Tese, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília, 2020.
  32. Munguambe, Amândio Didi. A Música Chope. Maputo, Moçambique: Promédia, 2000.
  33. Pereira, Matheus Serva. “Batuques negros, ouvidos brancos: colonialismo e homogeneização de práticas socioculturais do sul de Moçambique (1890-1940)”. Revista Brasileira de História, v. 39, n. 80 (2019): 155-177. https://doi.org/10.1590/1806-93472019v39n80-07
  34. Rita-Ferreira, António. Em Salvação da Música Chope. Lourenço Marques: Jornal Notícias, 1974.
  35. Rita-Ferreira, António. Povos de Moçambique história e cultura. Porto: Afrontamento, 1975.
  36. Rita-Ferreira, António. Presença Luso-Asiática e Mutações Culturais no Sul de Moçambique (Até c. 1900). Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical/Junta de Investigações do Ultramar, 1982.
  37. Rocha, Ilídio. A arte maravilhosa do povo Chope. Lourenço Marques: Instituto de Investigação Científica de Moçambique, 1962.
  38. Smith, Alan K. “The peoples of Southern Mozambique: an historical survey”. The Journal of Southern Mozambique, v. 14, n. 4 (1973): 565-580. https://doi.org/10.1017/S0021853700013050
  39. Smith, Laurajane. Uses of Heritage. New York: Routledge, 2006. https://doi.org/10.4324/9780203602263
  40. Thomaz, Omar Ribeiro. Ecos do Atlântico Sul. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Fapesp, 2002.
  41. Thomaz, Omar Ribeiro. “Uma terra de amigos: nota de apresentação”. Em A sociedade Chope: indivíduo e aliança no Sul de Moçambique, 1969-1976, David J. Webster, 15-19. Lisboa: ICS, 2009.
  42. Tracey, Hugh. “Três dias com os Bà-Chope”. Moçambique: Documentário Trimestral, n. 24 (1940): 23-58.
  43. Tracey, Hugh. “Música, Poesia e Bailados Chopes”. Moçambique. Documentário Trimestral, v. 30 (1942): 69-112.
  44. Tracey, Hugh. Gentes Afortunadas. Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1949.
  45. Tracey, Hugh. Chopi Musicians. Their Music, Poetry, and Instruments. 2. ed. Londres: Oxford University Press/International African Institute, 1970 [1948].
  46. Tracey, Andrew; Pannekoek, Rob. “Draft Proposal for a Timbila School, Moçambique”. Bulletin of the International Commitee on Urgent Anthropological and Ethnological Research, n. 37–38, 1996: 131-138.
  47. Tracey, Andrew. “Chopi Timbila Music”. International Library of African Music, v. 9, n. 1 (2011): 7-32. http://www.jstor.org/stable/23319427
  48. Trajano Filho, Wilson. “Patrimonialização dos artefatos culturais e a redução dos sentidos”. Em Memórias da África: patrimônios, museus e políticas das identidades, org. Lívio Sansone, 11-40. Salvador, BA: EDUFBA, 2012.
  49. Trajano Filho, Wilson. “Rumores: uma narrativa da nação”. Série Antropologia/Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, v. 143, 1993.
  50. UNESCO. Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage. Paris: UNESCO, 2003.
  51. UNESCO. Masterpieces of the Oral and Intangible Heritage of Humanity. Proclamations 2001, 2003 and 2005. Paris: UNESCO, 2006.
  52. Urbinati, Sabrina. “The Role for Communities, Groups and Individuals under the Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage”. Em Cultural Heritage, Cultural Rights, Cultural Diversity, org. Silvia Borelli e Federico Lenzerini, 201-221. Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2012.
  53. “The Community Participation in International Law”. Em Between Imagined Communities and Communities of Practice. Participation, Territory and the Making of Heritage, org. Nicolas Adell, Regina F. Bendix, Chiara Bortolotto e Markus Tauschek, 123-140. Göttingen: Universitätsverlag Göttingen, 2015.
  54. Wane, Marílio. “A Timbila chopi: construção de identidade étnica e política da diversidade cultural em Moçambique (1034-2005)”. Dissertação de Mestrado, Programa Multidisciplinar de Pós Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, Universidade Federal da Bahia, 2010.
  55. Webster, David J. A sociedade Chope: indivíduo e aliança no Sul de Moçambique, 1969-1976. Lisboa: ICS, 2009.
  56. West, Harry G. Kupilikula. O Poder e o Invisível em Mueda, Moçambique. Lisboa: ICS, 2009.