Dossiê: Histórias das artes, história das imagens - Vol 29, n. 2 (2023)
Enrico Castelnuovo, em um célebre texto, indica a complexidade da disciplina História da Arte e suas ramificações. Em suas palavras, “o melhor caminho possível para fazer história da arte é recuperar, com todos os meios que temos à disposição, tudo o que é possível saber sobre o ponto de partida, sobre os critérios de composição, de avaliação etc., seguidos pelo artista e pelo público, ou melhor pelos públicos, tendo ao mesmo tempo uma clara consciência de nossa situação, vale dizer, de onde estamos e de onde nos posicionamos quando tentamos certas operações. [...] Complexidade e multiplicidade: o historiador da arte deve olhar em muitas direções, levar em conta muitos e muitos dados”. Dados preciosos de Castelnuovo e que, de certa forma, correspondem às demandas atuais da disciplina. “[...] Todos os meios que temos à disposição” significam também o que o tempo pede e até que ponto os questionamentos são importantes em determinada época. Os horizontes hoje pedem por mais janelas, mais amplas e abertas para diversos caminhos. Pensar em análise das imagens por meio da história da arte é tarefa hercúlea e necessária. A disciplina jamais se pensou isoladamente, sempre em relação ou posicionada entre tantas outras.
Esse ponto de vista é enaltecido por uma visão que pensa a história da arte em relação à história das imagens ou das formas, de maneira a mais ampla possível. Hans Belting, seja em Imagem e Culto ou O fim da história da arte, reflete acerca de termos abrangentes no qual as imagens, especialmente fora do conjunto tradicional encarado pela disciplina, podem ser pensadas juntas. Se hoje questionamos mais claramente o lugar que certas imagens têm na história da arte, trabalhamos igualmente do ponto de vista revisionista e por muitas vezes condenando a atuação e a disciplina realizada no passado. Para voltar a Castelnuovo é preciso agir com todos os artifícios que possuímos, no entanto, tais pontos também são históricos.
Ao mesmo tempo entendemos que as imagens devem ser submetidas ao interrogatório histórico. Para compreendê-las, o historiador pode investigar a relação que estabelecem com a tradição e/ou com o contexto de produção, porém é míster a esse ofício estar atento ao fato de que a obra continua a acontecer. Nosso interesse pelo passado parte de demandas concretas de nosso tempo.
Esse dossiê pretende abarcar um conjunto amplo de análises de imagens com diversos enfoques de disciplinas distintas. História da arte, comunicação, antropologia entre outras áreas são bem-vindas para uma visão fractal das análises de imagens em nossa contemporaneidade. Igualmente uma variação consistente de suportes: cinema, fotografia, publicidade, belas-artes etc. Visamos entre outros pontos os seguintes eixos:
1 - Anseios contemporâneos: por uma história das imagens alargada
2 - Estudos visuais
3 - Decolonialidade
4 - A obra como arquivo