Progressão da doença renal crônica pré-diáliítica ao longo de 4 anos no contexto do Sistema Único de Saúde no Brasil: etnicidade é um fator?

Autores

  • Luciana dos Santos Tirapani Dalamura Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine
  • Lucas Fernandes Suassuna Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine https://orcid.org/0000-0001-7327-692X
  • João Eduardo Cascelli Schelb Scalla Pereira Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine https://orcid.org/0000-0003-3125-3812
  • Rosália Maria Nunes Henriques Huaira Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine
  • Neimar da Silva Fernandes Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine https://orcid.org/0000-0002-1198-6827
  • Priscylla Aparecida Vieira Carmo Federal University of Juiz de Fora, Postgraduate Program in Health, Faculty of Medicine https://orcid.org/0000-0003-1452-8802
  • Natalia Maria da Silva Fernandes Universidade Federal de Juiz de Fora https://orcid.org/0000-0001-8728-7937

DOI:

https://doi.org/10.34019/1982-8047.2021.v47.34181

Palavras-chave:

Insuficiência Renal Crônica, Grupos Étnicos, Doenças Não Transmissíveis, Progressão da Doença

Resumo

Introdução: A prevalência de doença renal crônica (DRC) aumentou significativamente, e populações com alta vulnerabilidade social tendem a ter pior progressão. Objetivo: Avaliar o impacto da etnicidade no controle da DRC pré-dialítica em um ambulatório interdisciplinar do Sistema Único de Saúde. Material e Métodos: Foram coletados dados de 1.992 pacientes com DRC retrospectivamente entre agosto/2010 e dezembro/2014. Foram incluídos pacientes encaminhados pela atenção primária à saúde, > 18 anos, ≥ duas consultas. Dados sociodemográficos foram coletados após a admissão; dados clínicos e laboratoriais foram obtidos em cada consulta. Os pacientes foram divididos em grupos segundo a cor da pele (auto-identificado). Foi realizada uma análise descritiva; as variáveis foram comparadas usando testes ANOVA, chi-quadrado ou Mann-Whitney. Variáveis associadas ao delta da taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) foram avaliadas por meio de regressão linear, ajustando-se para confundidores. Resultados: 25,1% eram negros, 34,4% pardos e 40,5% brancos. Aproximadamente 51,2% tinham renda ≤ dois salários mínimos, 84,8% tinham baixo nível de escolaridade, 14,0% eram analfabetos. Os pacientes negros eram mais jovens e tinham menor nível de escolaridade; apresentaram maior pressão arterial sistólica, colesterol total, lipoproteínas de alta densidade e hormônio paratireoide intacto; e sua hemoglobina e vitamina D eram mais baixas. A mediana da perda anual daTFGe foi de 0 (P25 -6,70, P75 +8,76), 36,5% tiveram perda rápida de TFGe (>5 ml/min/ano). Somente o uso de inibidores de enzimas conversores de angiotensina e baixa proteinúria foram significativamente associados com o desfecho (RR: 0,92, IC: 0,010-0,684, p=0,02; RR: 0,8, IC: 0,998-0,999, p=0,001). Conclusão: A etnicidade não impactou na progressão da DRC, embora os pacientes negros apresentassem características clínicas e sociodemográficas associadas à pior progressão da doença.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Fleury S, Carvalho A. INAMPS. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; 1998. [citado em 2020 jul 14]. Acessado em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/instituto-nacional-de-assistencia-medica-da-previdencia-social-inamps>.

Castro MC, Massuda A, Almeida G, Menezes-Filho NA, Andrade MV, Noronha KVMS et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. The Lancet. 2019; 394:345-56. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31243-7

Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística (BR). Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (BR). Atlas da violência. [citado em 2020 jul 16]. Acessado em: <https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/filtros-series/3/violencia-por-raca-e-genero>.

Leal MC, Gama SGN, Pereira APE, Pacheco VE, Carmo CN, Santos RV. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil. Cad Saúde Pública. 2017; 33 Sup 1:e00078816. doi: 10.1590/0102-311X00078816

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Indicadores de vigilância em saúde descritos segundo a variável raça/cor, Brasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.

Ministério da Saúde (BR). Manual de doenças mais importantes, por razões étnicas, na população brasileira afro-descendente. Brasília: 2001. [citado em 2020 jul 17]. Acessado em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd06_09.pdf>.

Bello AK, Levin A, Lunney M, Osman MA, Ye F, Ashuntantang G et al. Global kidney health atlas: a report by the International Society of Nephrology on the Global Burden of End-stage Kidney Disease and Capacity for Kidney Replacement Therapy and Conservative Care across world countries and regions. Brussels: International Society of Nephrology; 2019.

Piccolli AP, Nascimento MM, Riella MC. Prevalence of chronic kidney disease in a population in southern Brazil (pro-renal study). J Bras Nefrol. 2017; 39(4):384-90. 10.5935/0101-2800.20170070

Nascimento MM, Riella M. Raising awareness of chronic kidney disease in a Brazilian urban population. Braz J Med Biol Res. 2009; 42(8):750-5. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-879X2009000800010.

Bastos RMR, Bastos MG, Ribeiro LC, Bastos RV, Teixeira MTB. Prevalence of chronic kidney disease, stages 3, 4 and 5 in adults. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(1):40-4. PMid:19360276.

Sociedade Brasileira de Nefrologia (BR). Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia 2019. [citado em 2020 jul 16]. Acessado em: <https://www.sbn.org.br/>.

Dummer PD, Limou S, Rosenberg AZ, Heymann J, Nelson G, Winkler CA et al. APOL1 kidney disease risk variants: an evolving landscape. Semin Nephrol. 2015; 35(3):222-36. doi: 10.1016/j.semnephrol.2015.04.008

Hounkpatin HO, Fraser SDS, Honney R, Dreyer G, Brettle A, Roderick PJ. Ethnic minority disparities in progression and mortality of pre-dialysis chronic kidney disease: a systematic scoping review. BMC Nephrology. 2020; 21:217. https://doi.org/10.1186/s12882-020-01852-3

Scliar M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev Saúde Coletiva. 2007; 17(1):29-41.

Levin A, Lewis M, Mortiboy P, Faber S, Hare I, Porter EC et al. Multidisciplinary predialysis programs: quantification and limitations of their impact on patient outcomes in two Canadian settings. Am J Kidney Dis. 1997; 29:533-40. 10.1016/s0272-6386(97)90334-6

Pereira AC, Carminatti M, Fernandes NMS, Tirapani L dos S, Faria R de S, Gricenkov F et al. Associação entre fatores de risco clínicos e laboratoriais e progressão da doença renal crônica pré-dialítica. Jornal Brasileiro de Nefrologia. 2012; 34:68-75. https://doi.org/10.1590/S0101-28002012000100011

Tirapani LS, Pinheiro HS, Mansur HN, Oliveira D, Huaira RMNH, Huaira CC et al. Impacto da vulnerabilidade social nos desfechos de pacientes com doença renal crônica pré-dialítica em um centro interdisciplinar. J Bras Nefrol. 2015; 37(1):19-26. 10.5935/0101-2800.20150004

Levey AS, Stevens LA, Schmid CH, Zhang YL, Castro AF, Feldman HI et al. CKD-EPI (chronic kidney disease epidemiology collaboration): a new equation to estimate glomerular filtration rate. Ann Intern Med. 2009; 150:604-12.

Bastos MG, Kirsztajn GM. Doença renal crônica: importância do diagnóstico precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada para melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise. J Bras Nefrol. 2011; 33(1):74-87.

Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística (BR). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (PNAD Contínua) 2019. [citado em 2020 jul 18]. Acessado em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6408#notas-tabela>.

Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística (BR). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2004 a 2014). [citado em 2020 jul 17]. Acessado em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?pnad/cnv/pnadc.def>.

Hill JJ. Obesity: an emerging threat. J Natl Black Nurses Assoc. 2018; 29(2):36-9. PMID: 31022338

Olivo RE, Davenport CA, Diamantidis CJ, Bhavsar NA, Tyson CC, Hall R et al. Obesity and synergistic risk factors for chronic kidney disease in African American adults: the Jackson Heart Study. Nephrol Dial Transplant. 2018; 33:992-1001 doi: 10.1093/ndt/gfx230

Moretto MC, Fontaine AM, Garcia CAMS, Neri AL, Guariento ME. Associação entre cor/raça, obesidade e diabetes em idosas da comunidade: dados do estudo FIBRA. Cad Saúde Pública; 2016; 32(10):e00081315

Chor D, Ribeiro ALP, Carvalho MS, Duncan BB, Lotufo PA, Nobre AA et al. Prevalence, awareness, treatment and influence of socioeconomic variables on control of high blood pressure: results of the ELSA-Brasil study. PLoS ONE. 2015; 10(6):e0127382. doi:10.1371/journal.pone.0127382

Yoon SS, Fryar CD, Carroll MD. Hypertension prevalence and control among adults: United States, 2011-2014. United States of America: Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Health Statistics (NCHS) Data Brief; 2015.

Song AY, Crews DC, Ephraim PL, Han D, Greer RC, Boyér LPL et al. Sociodemographic and kidney disease correlates of nutrient intakes among urban African Americans with uncontrolled hypertension. J Ren Nutr. 2019; Sep;29(5):399-406. 10.1053/j.jrn.2018.12.004. Epub 2019 Jan 29.

Pu J, Romanelli R, Zhao B, Azar KMJ, Hastings KG, Nimbal V et al. Dyslipidemia in special ethnic populations. Cardiol Clin. 2015; 33(2):325-33. doi:10.1016/j.ccl.2015.01.005.

Herrick KA, Storandt RJ, Afful J, Pfeiffer CM, Schleicher RL, Gahche JJ et al. Vitamin D status in the United States, 2011-2014. Am J Clin Nutr. 2019; 110(1): 150-7. doi:10.1093/ajcn/nqz037.

Moraes HAB, Mengue SS, Molina MCB, Cade NV. Fatores associados ao controle glicêmico em amostra de indivíduos com diabetes mellitus do estudo longitudinal de saúde do adulto, Brasil, 2008 a 2010. Epidemiol Serv Saude 2020; 29(3):e2018500. https://doi.org/10.5123/s1679-49742020000300017

Drummond ED, Simões TC, Andrade FB. Acesso da população brasileira adulta a medicamentos prescritos. Rev Bras Epidemiol. 2018; 21:1-14. https://doi.org/10.1590/1980-549720180007

International Society of Nephrology. KDIGO clinical practice guideline for acute kidney injury. Kidney International Supplements. 2012; 2(1):1-138. doi:10.1038/kisup.2012.2

Crews DC, Charles RF, Evans MK, Zonderman, Powe NR. Poverty, race, and CKD in a racially and socioeconomically diverse urban population. Am J Kidney Dis. 2010; 55(6):992-1000. 10.1053/j.ajkd.2009.12.032. Epub 2010 Mar 6.

Norris K, Nissenson AR. Race, gender, and socioeconomic disparities in CKD in the United States. J Am Soc Nephrol. 2008; 19(7):1261-70. 10.1681/ASN.2008030276. Epub 2008 Jun 4.

Levey AS, de Jong PE, Coresh J, Nahas MEI, Astor BC, Kunihiro M et al. The definition, classification, and prognosis of chronic kidney disease: a KDIGO Controversies Conference report. Kidney International. 2011; 80(1);17-28 10.1038/ki.2010.483.

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra : uma política para o SUS. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.

Publicado

2021-09-15

Como Citar

1.
Dalamura L dos ST, Suassuna LF, Pereira JECSS, Huaira RMNH, Fernandes N da S, Carmo PAV, Maria da Silva Fernandes N. Progressão da doença renal crônica pré-diáliítica ao longo de 4 anos no contexto do Sistema Único de Saúde no Brasil: etnicidade é um fator?. HU Rev [Internet]. 15º de setembro de 2021 [citado 28º de março de 2024];47:1-11. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/34181

Edição

Seção

Artigos Originais

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)