Dossiê Anarquismo(s) em Perspectiva

2024-04-17

A partir da década de 1990, novos olhares foram direcionados para o anarquismo. A sensação de que as experiências anarquistas haviam sido enterradas nos escombros da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi rescindida diante de análises mais atentas que mostraram que, se o anarquismo havia morrido, era apenas como parte de um processo de transmutação. Se uma revolução social, no sentido proposto pelo anarquismo do século XIX, parecia estar cada vez mais distante, dada a ascensão dos movimentos e regimes autoritários e totalitários que marcaram o século XX, "persistiu um anarquismo dedicado ao anti-autoritarismo na vida cotidiana, onde os mais agudos se dedicaram a construir diariamente o mundo que desejavam ver realizado" (Craib, 2023, p.11). 

Diante do avanço das forças neoliberais e de seus regimes de austeridades, que marcaram os anos 80 e que nos assola até hoje, os princípios anarquistas tornaram-se armas poderosas na luta pelo direito a uma vida mais passível de ser vivida. Práticas de resistência orientadas pela horizontalidade e autogestão disputaram o cotidiano popular. Seja no levante Zapatista do Sul do México (1994), nas ocupações e assembleias de rua contemporâneas, na reivindicação ao direito aos nossos próprios corpos, ou no movimento antiglobalização dos anos 2000 (nós somos os 99%), temos nesses, e em muitos outros empenhos individuais e coletivos, a necessidade de livrar a vida dos imperativos autoritários. 

Se o anarquismo ainda existe, o que temos a dizer sobre isso? Este dossiê é um convite para revisitar a ancestralidade anarquista, em suas indissociáveis dimensões práticas e teóricas, assim como para expandir nossas reflexões com novos horizontes e campos de possibilidades, resgatando uma potência crítica e criativa imprescindível em um mundo como o nosso.


Sugestões de eixos temáticos:

  • Raça, gênero, classe e sexualidade em perspectiva libertária
  • Mulheres anarquistas
  • Trajetórias e pensadores/as anarquistas
  • Anarquismos e lutas contra coloniais 
  • Anarquismos e movimentos indígenas
  • Anarquismos e América Latina
  • Anarquismos e democracia
  • Anarquismos em perspectiva local, nacional, transnacional, global e comparada
  • Anarquismos e mundos do trabalho
  • Anarquismos e arte
  • Movimentos e modelos sindicais
  • Escolas, educação e pedagogia libertária
  • Imprensa popular
  • Arquivos, editoras e bibliotecas anarquistas 
  • Anarquismos e redes sociais/internet
  • Movimentos de rua e ocupações
  • Geografias anarquistas 
  • Antifascismos 
  • Anarquismos e experiências cotidianas
  • Anarquismos e pós-modernismos
  • Natureza, ecologia e meio-ambiente

Referências Bibliográficas

Butler, J. (2018). Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia (Trad. F. Siqueira Miguens). Civilização Brasileira.

Craib, R. (2023). [Prólogo]. In P. Palma Calorio, G. Labbé Céspedes, I. Ayala Cordero, & F. Peña Castillo (Eds.), Ciudades de la revuelta: la espacialidad del movimiento anarquista entre finales del siglo XIX y mediados del XX (pp. 11-12). Disponível em: https://nucleogeoanarquista.cite.ong/publicaciones/. Acesso 13/04/2024.

Graeber , D. O anarquismo no século 21. (Trad.Heitor Magalhães Corrêa). Editora Monstro dos Mares. 

Ibáñez, T. (2015). Anarquismo é movimento: anarquismo, neoanarquismo e pós-anarquismo. (S. Norte, Trans.). Intermezzo: Imaginário.

Newman, S. (2022). Do anarquismo ao pós-anarquismo. (Trad. L. Lazzaretti). Sobinfluencia Edições.

Organizadoras do Dossiê: Nilciana Alves Martins e Dalila Varela Singulane.