CHAMADA PARA DOSSIÊ - Edição 2019/01 - "As ciências sociais e as artes em eventos: estudos de exposições, bienais, feiras, festivais e mostras culturais"

2019-01-16

Os interessados em enviar artigos devem observar as diretrizes para os autores da CSOnline e submeter seu trabalho até o dia 28 de maio de 2019. Segue abaixo maiores informações da proposta do dossiê.


"As ciências sociais e as artes em eventos: estudos de exposições, bienais, feiras, festivais e mostras culturais"

Proponentes:

Bianca Salles Pires - doutoranda no Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora visitante na Universidad Autônoma Metropolitana-Iztapalapa, México;

Tálisson Melo de Souza - doutorando no Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador visitante na Yale University, Estados Unidos;

 

Resumo:

Em dois ensaios publicados na década de 1890, Georg Simmel abordou as exposições de arte e de produtos da indústria como símbolos da modernidade, pois as considerava sintomas da dinâmica e da temporalidade de um novo contexto que se configurava nas grandes cidades europeias à época. Simmel atentou-se para a maneira como as exposições concentravam objetos e pessoas numa experiência social e estética, espacial e temporalmente delimitada, um evento através do qual se projetavam uma diversidade de imagens, objetos, ideias e valores que circulavam pelo cotidiano urbano moderno. Segundo o autor, dessas experiências contemplativas, indivíduos e sociedade formulavam e reformulavam uma noção de unidade acerca das práticas produtivas do tempo presente. Menos de um século depois dessas análises propostas por Simmel, grandes exposições periódicas, nacionais e internacionais, como as bienais de arte, passaram a compor um intenso calendário e denso mapa de realizações em todos os continentes, apresentando, a partir dos anos de 1980 uma proliferação - chamada “biennialization”. O mesmo é observável nos casos das mostras, feiras e festivais de cinema, dança, literatura, performance, teatro, vídeo, e outras linguagens artísticas legitimadas ou em busca de sua legitimação. Esse processo sendo muitas vezes mediado pela consolidação da realização de eventos públicos que reúnem produtores, produções, críticos, especialistas, os já aficionados ou curiosos, e também criam novas audiências. A intensificação no número, constância e distribuição geográfica dos eventos culturais vêm levando a’a sistematização de abordagens críticas em pesquisas  de diversas áreas, potencializando enfoques sobre suas dimensões social, política, cultural e econômica, suas relações com dinâmicas de poder, valores compartilhados, vínculos identitários, estilos de vida, formas de socialização, construção de visões de mundo, práticas de produção, mediação e consumo de objetos, ideias, emoções e experiências. Mais recentemente, em disciplinas das humanidades e sociais aplicadas, os eventos culturais têm se constituído como desafiador objeto de análises para se pensar o que acontece entre produção e consumo, considerando as experiências de organização e fruição de eventos culturais como momentos complexos e particulares de apresentação, circulação e negociação de agendas ideológicas, contextos de socialização, convergência de interesses, transformações epistemológicas e reativações da esfera pública. Este dossiê se propõe agregar trabalhos que contribuam com o desenvolvimento de abordagens teóricas e metodológicas sobre os eventos culturais a partir de perspectivas antropológicas, sociológicas e transdisciplinares.


Social Sciences and the Arts in Events: studies on exhibitions, biennials, fairs and cultural festivals

Abstract

In two essays published by Georg Simmel during the 1890s, he analyzed exhibitions of fine arts industrial products as symbols of the modernity, as he considered both phenomena as symptoms of the dynamics and temporality related to a new context that had been emerging within Europeans metropolis. Simmel payed attention to how exhibitions gathered objects and people in a social and aesthetic experience, spatial and temporally delimited, an event in which a diversity of images, objects, ideas and values were projected from their broader circulation in modern urban everyday life. According to him, from these contemplative experiences, individuals and society had formulated and reformulated a notion of unicity about production practices of their times. Less than a century after Simmel’s analytical propositions, large periodical exhibitions, national and international, like art biennials, were establishing an intense calendar and dense map of manifestations in all continents, presenting, since the 1980s – so called “biennialization”. The same is possible to be observed in the case of fairs and festivals of cinema, dance, literature, performance, theatre, video, and other artistic languages, whether already legitimated or looking for legitimation - being this process, in many cases, mediated by the consolidation of public events that assemble producers, productions, critics, experts, enthusiasts and curious, as well as they create new audiences. The increasing in number, constancy and geographical distribution of cultural events has been studied by researchers from many fields. However, studies on cultural events had not received systematic attention from critical approaches, that could focus on their social, political, cultural and economic dimensions, their relations with power dynamics, shared values, identitary ties, lifestyles, socialization forms, worldview building, practices of production, mediation and consumption of objects, ideas, emotions and experiences. More recently, in humanities and social applied sciences, cultural events have bees constituted as challenging objects for analysis to think about power relations and the relationship between production and consumption, considering organization and fruition of cultural events as complex and singular moments to present, circulate and negotiate ideological agendas, epistemological transformations and the reactivation of public spheres. We propose this thematic section as a way to aggregate research works that can contribute with the development of theoretical and methodological approaches to cultural events from anthropological, sociological and transdisciplinary perspectives.

 

Enfoque:

Consideramos os eventos culturais, em sua diversidade e complexidade, um potente fenômeno de estudo pelas ciências sociais, constituindo-se como desafiador objeto de análise para se pensar as relações de poder, fluxos e conexões entre produção e consumo culturais, considerando as experiências de organização e fruição de eventos culturais como momentos significativos e particulares de apresentação, circulação e negociação de agendas ideológicas, transformações epistemológicas e reativações da esfera pública. Com isso, este dossiê visa reunir trabalhos de pesquisas em ciências sociais e outras disciplinas que se dedicam ao estudo dos eventos culturais, nomeadamente: bienais, exposições, festivais, mostras e outros tipos de manifestações programadas ou espontâneas. Ou seja, estudos centrados nas artes (arquitetura, artes visuais, cinema, dança, literatura, música, performance, teatro, vídeo, entre outras linguagens artísticas), nos contextos em que entram em contato com seus públicos. Considerando a complexidade desse tipo de objeto, as abordagens podem variar entre suas dimensões social, política, artística, ideológica e econômica, bem como em suas escalas – local, regional, nacional, internacional, global –, e em seu recorte, podendo relacionar-se mais às organizações dos eventos, os modos de apresentação de seus objetos, as formas como o público os acessa, e suas repercussões. Os eventos culturais também podem se apresentar em configurações híbridas, por exemplo, com esportes, ciências, tecnologia, consumo, estilo de vida, turismo e entretenimento.