“Nunca me senti representada”

reflexões-críticas antirracistas sobre a formação docente em língua materna

Autores

  • Renan Silva da Piedade Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro https://orcid.org/0009-0006-4732-483X
  • Emanuelle de Souza Fonseca Souza Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Palavras-chave:

Formação docente, Educação antirracista, Narrativas, Avaliação, Representatividade negra

Resumo

Neste artigo, refletimos sobre as questões raciais que perpassam a formação docente de uma professora negra de língua materna, a fim de propormos construções de saberes sociopoliticamente justos nos ambientes pedagógicos em que estamos inseridos. Alinhados à linguística aplicada crítica (Tanzi Neto, 2021) e à concepção de educação antirracista (Gomes, 2021), analisamos as experiências relatadas com/pela participante, sob um olhar qualitativo de pesquisa (Denzin; Lincoln, 2006), com base no ferramental socioconstrucionista da análise da narrativa (Riessman, 2008) e dos estudos da avaliação (Thompson; Alba-Juez, 2014). Os entendimentos parciais sugerem que a ausência da representatividade negra durante a formação docente sustenta o projeto colonialista de manipulação de nossos imaginários negros (Rufino, 2021), bem como fomenta a perpetuação do racismo na educação universitária e escolar.

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Publicado

2024-12-21