A língua deles no meu corpo
o autoetnógrafo como corpo-experienciador da linguagem e do campo
DOI:
https://doi.org/10.34019/1982-2243.2018.v22.27963Resumo
Neste artigo procuro contribuir para a área do conhecimento autoetnográfico dentro da linguística aplicada, narrando fatos da minha experiência como linguista autoetnográfo no estudo da estilização de si nos aplicativos de pegação. Mais especificamente, descrevo minha recepção corpórea de cantadas e injúrias dentro do campo e proponho que linguagem deve ser entendida pelo que faz (aspecto performativo) e não pelo que diz (aspecto semântico). Dialogando com filósofos comoMichel Foucault, John Austin e Judith Butler, proponho ser o corpo do pesquisador – o receptor da linguagem – lócus de produção de inteligibilidade sobre o mundo em que estamos imersos. Discuto a relevância da reflexão linguística na composição de um estilo autoetnográfico, assim como a relação contemporânea do aparelho celular com o nosso corpo. Inspirado pelos escritos de Spinoza, argumento pela compreensão do campo como um conjunto de forças afetivas – dentre as quais faz parte a linguagem –, por meio das quais podemos aprender e apreender o mundo, e pela resignificação da metáfora de “entrada no campo” como responsabilidade decolonial. Finalmente, discuto a presença do pesquisador no campo como produtor de afeto sensual e como experienciador de injúrias linguísticas, explorando a potencialidade dessas experiências para o conhecimento linguístico-etnográfico.