A construção cristã da santidade de uma preta escravizada:
História da morte de Romana, Meruoca – CE, século XIX
DOI:
https://doi.org/10.34019/2237-6151.2025.v22.48702Keywords:
escravização. colonialidade. religião. racismo. decolonialidadeAbstract
Romana foi escravizada na serra da Meruoca, norte do Ceará, século XIX. Perseguida pelo filho do seu senhor resistiu aos caprichos sexuais do moço branco que, por acidente, cai num despenhadeiro e morre. De vítima, passa à condição de assassina e é barbaramente torturada. Seu martírio torna-se símbolo de santidade, atraindo ao lugar da morte, pagadores de promessa, romeiros e visitantes que agradecem milagres e favores alcançados. O objetivo deste trabalho, cuja pesquisa incluiu visitas de campo, registro de depoimentos, estudo bibliográfico e documental, é explorar uma hipótese: os agenciamentos interpretativos da morte de Romana contextualizam-se na romantização do martírio pelo dogma cristão da castidade, silenciando a questão social diante da violência contra a mulher, ainda mais contra uma mulher preta e escravizada.
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