Brasilidade e cosmovisão banto:
Considerações sobre a construção da identidade da Umbanda no Estado Novo (1937-1945)
DOI:
https://doi.org/10.34019/2237-6151.2025.v22.48424Keywords:
Umbanda, Brasilidade, BantoAbstract
Circunscrevendo um período histórico onde se estabeleceu a ditadura do Estado Novo (1937–1947), o presente artigo visa tratar do desenvolvimento e ascensão da Umbanda no Brasil de maneira que, sem perder o contexto político externo, evidenciem-se as razões internas da construção dessa identidade brasileira. No Estado Novo, as religiões enfrentam um período de adaptação turbulenta ao regime, diante da relação estreita que este estabelecia com a Igreja Católica. No entanto, ao se colocar como autêntica religião brasileira, a Umbanda não está simplesmente se conformando ao discurso hegemônico da brasilidade reproduzido durante o Estado Novo, mas, sim, dando continuidade à cosmovisão banto, herança cultural formadora do modo de ser da fé umbandista. Sem fechar a questão ou formular um sistema definido, buscamos conceituar essa cosmovisão banto como uma filosofia, principalmente com base no reconhecimento dessa filosofia banto feito pelo missionário Placide Tempels (1906–1977). Isto significa que essa herança cultural construída pelos povos africanos de matriz banto, presente nos africanos em diáspora e continuada na religião da Umbanda, tem um fundamento ontológico, uma maneira própria de pensar o ser como dinâmico.
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